domingo, 31 de julho de 2011

END OF THE GAME

(apesar de Sara não ter gostado)

Ela esperou tanto que enfim
acabou
O que estava por vir, não veio
E o que era pra ser, não foi
Ele ficou rondando a palavra
Sem dizer porque
Até que disse algo
Sem sentido
Ou que era para ser entendido
ao avesso
No fim, ela cansou
E se rendeu ao silêncio.

A JANELA

Colaboração de Sara Dutra

Quando abro a janela te vejo
Quando fecho a janela te espero
Quando a janela vibra te encontro
Quando a janela aparece te respondo
Culpa da janela!

AQUELA PALAVRA

É o mínimo que eu posso dizer
Mas nessa palavra
uma palavra pode conter tudo
E ainda deixar algo a ser dito.
Fica a mercê de quem me entende
fazer sentido.

(sem título)

De lá pra cá
e daqui em diante
Ou seja: sempre.
Desde o início e muito antes
E bem depois de tudo.
Algo sem princípio e fim
como um círculo.

AMOR PLATÔNICO MODERNO

Hoje eu percebi,
pela primeira vez,
algo que você achou que saberia esconder
"Pela tela, pela janela"
Eu senti um leve tremor
Quando a palavra parou no meio da linha
E você desconversou
Agora eu entendi o que você queria dizer e
nunca diz
do outro lado da linha,
a carinha alegre dizia
que você não estava feliz.

NÃO POR ACASO

Foi tamanha a surpresa que eu já esperava
e não acreditava mais que viria
Suspeitava sim que seria
Sem certeza

Estava sempre lá e eu não sabia
se soubesse já teria encontrado
Sabendo que já me procurava
e tinha visto

Eis que então, pelo previsto
E não por acaso
Um de nós dois que não sou eu
fez o que tinha que ser feito:

juntou os atos e os efeitos.

O TEMPO EM SUSPENSÃO

Estive esperando pacientemente
aflito para falar
enquanto isso em silêncio
Pensando nisso
Fazendo algo para pra não pensar
sabendo que não daria certo
Estive parado correndo contra o tempo
prendendo o ar
Pra voltar a respirar com você
Você me disse que não ia demorar
Mas voltou tão devagar que
Se eu esperasse mais um dia
Finalmente aprenderia a esperar.

UM CERTO ACASO

Algo sobre alguém que você sabe quem é
tem que acontecer
Pelo que já é tende a ser o que se quer
e pode ser se eu quiser
e você corresponder.

TOLO AMOR

A princesa riu
e o bobo ficou feliz
Pensando que o riso dela
era porque ele era um belo princípe.

DOIS A UM

Um dia eu te ganho
E me perco
Um por um dos meus medos
Você vai me roubar
Qualquer hora me rendo
Pra te levar.

domingo, 17 de julho de 2011

VOCÊ ESTÁ SENDO FILMADA

"Sorria, você está sendo filmado". Diz uma pesquisa recente que cada pessoa pode ser filmada em média, 60 vezes por dia. Nas ruas, nos hipermercados, nas lojas, nos corredores da escola ou do local de trabalho, na portaria do seu prédio, no trânsito, tudo o que você está fazendo, suas atividades mais triviais, pode estar nesse momento sendo observado por um guarda de segurança uniformizado. Muitas pessoas acreditam que essa vigilância permanente de todos os nossos passos na vida cotidiana de uma grande metrópole significa invasão de privacidade, uma espécie de voyeurismo oficial. Por essas câmeras, tanto se pode flagrar um cliente de supermercado furtando uma lata de atum, como um casal em carícias mais íntimas num canto de uma calçada, ou um ladrão arrancando a bolsa de uma senhora, ou a placa de um veículo que acabou de avançar o semafóro. Ou seja: nada escapa às lentes, nada se pode fazer escondido, ou impunemente. No longa de estréia do argentino radicado no Uruguai, Adrián Biniez, "Gigante" (2009, Vencedor do Urso de Prata do Festival de Berlim), temos um tímido guarda de segurança chamado Jara (Jarita, para os colegas) que trabalha no turno da noite na sala de vigilância de um grande supermercado da capital uruguaia, Montevídeu. Nesse horário, a loja já está fechada e, em vez de clientes, os corredores são ocupados por um batalhão de faxineiras, carregadores e repositores de mercadorias. Jara é um cara grandalhão, forte e um pouco obeso, muito calado e sossegado, que curte rock pesado, mas sempre nos fones de ouvido. Mora sozinho, de vez em quando cuida do sobrinho, e nos finais de semana faz um bico em uma boate perto de casa, expulsando clientes mais exaltados, apartando brigas. Seu dia a dia é quase sempre esse: da casa pro trabalho e do trabalho para casa, dormindo na frente da TV e, às vezes, na frente dos monitores da salinha de controle. Um dia sua monótona rotina sofre uma reviravolta: pelos monitores de vídeo, Jara assiste o gerente do supermercado dando um pito em uma empregada da limpeza que, sem querer, derruba uma pilha de rolos de papel higiênico; dando um zoom na imagem, Jara percebe a expressão constrangida da faxineira, quase chorando, mãos trêmulas; mas no que Jara mais presta atenção é o lindo rosto da jovem. Essa imagem fica na sua cabeça e ele se apaixona nesse mesmo instante pela garota. O rapaz passa então a seguir todos os passos dela: descobre o seu nome, Julia, roubando a ficha de identificação dela no arquivo do RH; segue-a até em casa, na lan house, no cinema, na loja de conveniência, sem jamais aparecer ou se apresentar. No início desse texto, falamos na vigilância secreta das câmeras: o que Jara faz é a mesma coisa - vê sem ser visto, segue sem ser notado, conhece sem ser conhecido. Julia segue sempre alheia a esse "assédio secreto" do vigilante. Mesmo quando ela encontra com outros rapazes, no trabalho ou não, Jara está ali, bem perto, observando e registrando tudo, como se ele mesmo fosse uma câmera de vigilância.
Assista ao trailer

GIGANTE (Gigante, 2009,Uruguai/Argentina/Alemanha-Espanha, 90 min; Direção Adrián Biniez; com Horacio Camandulle e Leonor Svarcas)

quinta-feira, 14 de julho de 2011

MICHAEL BUBLE: "LOST"

Confesso: chorei assistindo a esse clipe. O filme da canção "Lost" do álbum "Call Me Irresponsible" do cantor americano Michael Buble. O que temos são várias pessoas que moram no mesmo prédio e suas histórias de solidão e perdas: o senhor idoso sozinho em sua sala de jantar, com a mesa posta para duas pessoas; o rapaz que ficou paraplégico contempla desencantado as medalhas que ganhou quando ainda era um grande esportista; a mãe que acaricia o retrato do filho (parece que ele já morreu), o rapazinho que chora de saudade da garota amada, a mulher de camisola aos prantos, sentada no chão frio do banheiro. Mas a canção nos diz que você nunca está só. Talvez, se você sair do seu mundo, se você abrir a porta e olhar pela janela, quem sabe não encontra alguém? Alguém pode estar te procurando também.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

AOS QUE VÃO FICAR: MINHA VIDA SEM MIM

Em Minha Vida Sem Mim (My Life Without Me, Canadá/ Espanha, 2003, dirigido por Isabel Coixet e com produção de Pedro Almodóvar), Ann (Sarah Polley) descobre que vai morrer daqui a dois, talvez três meses, mas só ela (e o médico) é que ficam sabendo disso. Para o marido e as duas filhas, para a mãe, para as colegas de trabalho, Ann tem apenas uma simples anemia. Na realidade, o câncer nos ovários já se alastrou para o pâncreas e os rins. Mas não é por medo ou covardia que Ann esconde das pessoas queridas que vai morrer. Mesmo quando ela recebe o diagnóstico, não se descabela, não se desespera, sequer verte uma lágrima. Ann só tem vinte e três anos, e a vida não tem sido generosa com ela: trabalha à noite varrendo os corredores da universidade em que sempre sonhou estudar; A mãe (Debbie Harry, vocalista da banda Blondie), amargurada e fria, quase não fala com ela, e quando fala destila seu rancor e sua mágoa contra tudo e contra todos. Ann também não fala com seu pai, há dez anos preso. A felicidade de Ann são as duas filhas, Penny (Jessica Amlee) e Patsy (Kenya Jo Kennedy), e o amoroso e dedicado marido Don (Scott Speedman), que constrói piscinas, mas há meses está desempregado. A família mora num trailer no quintal da casa da mãe dela e é, para todas as aparências, unida e feliz. Quando descobre a iminência da morte, Ann toma para si mesma grandes resoluções: vai usar todo o pouco tempo que lhe resta para preparar as pessoas que ama para o dia em que vier a faltar. Assim, ela anota em um caderno a lista das dez coisas a fazer antes de morrer. As "tarefas" incluem, entre outras providências, registrar em fitas cassete mensagens para os aniversários das filhas até que elas completem dezoito anos, encontrar uma nova mulher para o marido, e experimentar um outro relacionamento só para ver como é, já que Don fora seu primeiro e único homem. O amante surge na figura de um estranho chamado Lee, que mora em um apartamento sem móveis (Mark Ruffalo, em brilhante atuação). Assim, serenamente, mantendo a rotina enquanto consegue manter-se de pé, Ann vai se despedindo sutilmente do mundo, sem alarme e sem alarde.Graças à direção segura e econômica de Isabel Coixet, Minha Vida Sem Mim não descamba para a pieguice, nem procura dar lições de vida e de moral, nem apresenta a morte como um drama lacrimoso, grotesco ou chocante: sequer se dá enfâse a degradação física provocada pela doença. A cena em que ela, literalmente, desaparece, é apenas um fotograma branco no filme. Assista o trailer.

AMOR CONTRA AS BALAS

Em meio a uma saraivada de tiros, um casal se beija apaixonadamente. Este é o roteiro de belíssimo videoclipe da canção "21 Guns", da banda de punk rock californiana Green Day, single de estréia do mais recente álbum do trio, 21th Century Breakdown. "21 guns" é a salva de vinte e um tiros que são disparados em alguma ocasião festiva, ou em homenagem a alguma autoridade. No caso do clipe dirigido por Marc Webb, de "500 Dias Com Ela" e da nova série de filmes do Homem Aranha, temos um casal acuado na sala do próprio apartamento, na minha opinião uma metáfora do estado atual de sua relação. O rapaz e a moça olham para lados opostos, ela para a janela onde oscila a perigosa luz de uma viatura policial e ele para lugar nenhum, parecendo alheio a tudo em volta. Os dois não se notam, parece que um dos dois não está ali. De repente, o que era uma ameaça se torna real: uma rajada de balas começa a ser disparada pela polícia. Em meio ao desespero e ao pânico, os dois se entreolham e descobrem que estão juntos e, seja o que for, precisam um do outro. O que quer que aconteça será com os dois e nos piores momentos da vida ou nas horas mais felizes ambos serão protagonistas da mesma história. O belo paradoxo do filme é que os tiros disparados pela polícia abrem buracos nas paredes fazendo com que a luz exterior invada o ambiente, iluminando o antes obscuro apartamento, revelando os objetos outrora ocultos pela penumbra. A luz que faltava para que um pudesse ver o outro, para enxergar nele um espelho de si mesmo. Agora, com o dia claro entrando pelos buracos de bala, eles podem ver que ambos precisam confiar um no outro, entregar-se, encarar a realidade e enfrentá-la juntos, aconteça o que acontecer. Mesmo em meio aos tiros, da saraivada de problemas, apesar de todo o caos, os dois caminham um na direção do outro, se abraçam e se beijam, como se esse beijo fosse o selo de algo que existe para o que der e vier, e mesmo que possam morrer, morrerão juntos, em nome de alguma coisa muito mais importante do que tudo.
Assista:

terça-feira, 12 de julho de 2011

(sem título)

Mudam as consequências de novas razões
A mesma ideia é dita de outra maneira
E contém sentidos iguais

De outras aparências o ser se apresenta
De modo a se reconhecer

Estranha coincidência isso nos fazer lembrar
que a mais recente novidade
É a muito tempo conhecida.

SAVASSI MAIS BELA

A moça recatada e trabalhadeira de dia
Torna-se a dama da noite
Com as luzes acesas

A mesma que de dia é feia, mal-vestida, uniformizada
Dança com estranhos até a hora mais tardia da madrugada

Ar de criança crescida no início da tarde
Lojas de brinquedo abertas
E roupas novas coloridas
Quando a noite cai, a moça sóbria, sombria e contida
Desvaria:
Depois de tudo vai dormir cansada.

(e o vermelho do batom torna-se cinza)

domingo, 10 de julho de 2011

PRIMEIRO DOMINGO DE JULHO

Já que essa tarde de domingo não foi como eu esperava, e nem COM QUEM eu esperava estar, preciso fazer novos planos: estou aqui mesmo, e tem uma galeria de arte, uma cafeteria, um cinema. A livraria, disse o segurança, só reabre na terça. Dou uma olhada nas sinopses dos filmes. Interesso-me pela história de um homem de 70 anos, aposentado, que decide voltar a estudar na Faculdade de Literatura. O ingresso, por incrível que pareça, custa só cinco reais, a inteira. Lá em cima (estou no nível inferior do Palácio das Artes), a galeria exibe uma exposição que cobre 100 anos de arte brasileira: perambulo pelos artistas da década de 10 do século passado até obras dos dias atuais. Quase seis da tarde, desço, tomo um belo cappucino na cafeteria do Palácio e vou assistir ao filme. Emociono-me com a história de Chano, um simpático septuagenário que acaba de se matricular na universidade. O filme termina, saio do cinema com a alma mais leve, e um pouco menos triste. Resolvo caminhar pela linda cidade que é Belo Horizonte num domingo à noite. Nem parece aquela capital agitada e nervosa de segunda a sábado. Vou andando até a praça diante do Batalhão da Polícia, onde as crianças brincam, os casais de namorados (homos e heteros) passeiam de mãos enlaçadas, as senhoras conduzindo seus cãezinhos, garotas saradas fazendo sua caminhada, o vendedor de pipoca com o seu ganha-pão. E o trânsito tranquilo, a temperatura amena, quase me convidam a permanecer ali por mais tempo, pensando na vida, me convencendo que eu tenho o direito de ficar assim em paz comigo, consciente do que eu sinto, até mesmo para ter saudade e vontade de ver, de conversar, de me apaixonar de novo. Vou até o Shopping Center ali perto, entro só para ficar perambulando, olhando as vitrines das lojas fechadas, a exposição de carros antigos, a fila do cinema, que está passando um blockbuster qualquer. No hipermercado, compro lápis, canetas e cadernos, compro um refrigerante. Saio para procurar o ponto de ônibus para casa. As pessoas, com ar de cansaço feliz, o dia delas deve ter sido divertido também, todas elas saíram da rotina dos dias comuns. A não ser a bela garota com o uniforme da empresa que gerencia o cinema do shopping: ela acaba de deixar o serviço, não deve nem estar pensando em lazer, em ver um filme. Deve estar aflita pra chegar em casa. O telefone toca, e a mensagem de texto diz que vale a pena viver o momento, "curtir a própria companhia", que foi bom não ter desperdiçado a tarde de domingo. Concordo. Sim, estar comigo mesmo hoje foi bom, acho que agora eu gosto um pouco mais de mim, embora o coração esteja ainda um pouco triste.

sábado, 9 de julho de 2011

EMPREGO

Um curta engraçadíssimo sobre como é difícil arrumar emprego hoje em dia.

domingo, 3 de julho de 2011

SINAL FECHADO; SORRISO ABERTO

Filme da Brastemp: "O Dia em que um Sorriso Mudou São Paulo"