
sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008
Não Amarás será finalmente lançado em DVD

(Krótki film o milosci/ Short Film About Love,Polônia, 1988, 86 min)
Direção: Krzysztof Kieslowski
Roteiro: Krzysztof Kieslowski, Krzysztof Piesiewicz
Elenco: Grazyna Szapolowska, Olaf (corresponde a Olavo em português)Lubaszenko, Stefania Iwinska, Piotr Machalica)
Enfim, depois de uma longa espera, os amantes do bom (do melhor)cinema já podem comemorar: a Platina Filmes (www.platinafilmes.com.br) já programou para março de 2008 o lançamento em DVD dos longas "Não Amarás" e "Não Matarás", do diretor polonês Krzysztof Kieslowski, derivados da série televisiva "Decálogo". Cada um dos dez curtas trata de um dos dez mandamentos. Desses dois que se transformaram em longas, eu queria destacar o "Não Amarás" como o mais belo filme a que já assisti na vida. Tomek, um rapaz de 19 anos munido de uma luneta passa as noites a observar a movimentada vida afetiva/sexual da sua vizinha, Magda (uma mulher madura), que mora defronte ao seu apartamento. Enquanto isso ele inventa pretextos para, por um segundo que seja, poder vê-la mais de perto. Com o tempo ele revela seu amor, mas ela o humilha e algo surpreendente acontece nesta relação. Linda a cena do leite derramado. Destaque para a belíssima trilha sonora de Zbigniew Preisner e para a fotografia de Witold Adamek , que com tons de cinza desde o mais escuro ao branco mais intenso realçam as nuances psicológicas do protagonista. É um filme sobre a impossibilidade do amor, do quanto ele pode ser terrível, assustador, inacessível, monstruoso. De que o amor, muitas vezes, rima com dor.
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
Meu momento atual:
Assista Johnny Nash cantando "I Can See Clearly Now" no Youtube: www.youtube.com/watch?v=k3KwpJUrgN4
“I Can See Clearly Now”
(written and recorded by Johnny Nash)
I can see clearly now, the rain is gone,
I can see all obstacles in my way
Gone are the dark clouds that had me blind It’s gonna be a bright (bright), bright (bright)
Sun-Shiny day.
I think I can make it now, the pain is gone
All of the bad feelings have disappeared
Here is the rainbow I’ve been prayin?for
It’s gonna be a bright (bright),
bright (bright) Sun-Shiny day.
Look all around, there’s nothin but blue skies
Look straight ahead, nothin but blue skies
I can see clearly now, the rain is gone,
I can see all obstacles in my way
Gone are the dark clouds that had me blind
It’s gonna be a bright (bright), bright (bright)
Sun-Shiny day.
Tradução por Olavo Duarte
Agora eu vejo claramente: a tempestade se foi
Percebo todos os obstáculos no meu caminho
Nuvens negras que me cegavam foram embora
será um radiante dia de sol
Agora que a dor acabou acho que posso fazer
todos os maus sentimentos desaparecer
Eis aí o arco-íris pelo que orei
será um radiante dia de sol
Olhe pra tudo em sua volta: não há mais nada além do céu azul
Veja bem na sua frente: não há mais nada além do céu azul
Agora eu vejo claramente: a tempestade se foi
Percebo todos os obstáculos no meu caminho
Nuvens negras que me cegavam foram embora
será um radiante dia de sol
Jalal Ud-Din Rumi
Divan de Shams de Tabriz
tradução por José Jorge de Carvalho
[PROMESSA]
Noite passada fiz outra vez a promessa:
jurei por tua vida jamais desviar os olhos de tua face.
Se golpeares com a espada, não me esquivarei.
Não buscarei cura em mais ninguém,
pois a causa de minha dor é ver-me longe de ti.
Joga-me ao fogo;
se deixar escapar um único suspiro
não serei homem de verdade.
Surgi do teu caminho como pó.
Retorno agora ao pó do teu caminho.
terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
Mais versos meus
CASUALIDADE
De qualquer momento em diante
Desde este seu de repente
Pudera fosse antes
Até o futuro que não sabemos quando
A partir do instante
Onde quisermos que o começo seja
Ficamos por dizer quando seremos
Neste caso ficamos onde estamos
E ainda não sabemos o que somos
RECADO A UMA ESTRANHA
Desde que chegaste,
Eu só te espero chegar
Sem saber de ti
Ao longo de horas por dia
Às vezes, como um raio fulgurante
Suponho ter te visto passar
À distância
Mas, com minha insistência
Quase te consigo tocar,
Percebe-se isso pela urgência
Com que horas e horas vêm se despedindo
E é tão claro como um clarão repentino
Contra um breu
E, depois, dorme outra vez.
MÚTUO ESTRANHAMENTO
Se você não sabe nada
Tudo bem
Eu também não sei direito
A gente pode, assim, se assustar
Duas vezes
Não te perguntei nenhuma coisa
Porque não duvidei
Quase todo segredo que eu guardei
Ou eu perdi
Eu te entreguei
EXPLICAÇÃO DA MINHA POESIA
E você ainda acha que eu não falo
No que penso quando escrevo?
São todas as coisas: o bom do dia, isso que ficou da tua palavra
Ou quase tudo que dissemos de passagem
Se o motivo não está claro, olhe-se no espelho
E, de súbito, a razão vai te ver sorrindo
Cerco-me de metáforas, ditos estranhos
Aludindo a outros segredos que não entrego
Mas o que me exalta, inspira e impele
É a única palavra que não digo.
Pablo Neruda; "Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada"
(Ricardo Neftáli Reyes, 1904 - 1973)
"Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada"
Poema 10
Temos perdido também este crepúsculo.
Ninguém nos viu esta tarde com as mãos unidas
enquanto a noite azul tangia sobre este mundo.
E tenho visto desde minha janela
uma festa do poente entre as serras distantes.
Às vezes como uma moeda
se ascendia um pedaço de sol entre minhas mãos.
Eu te recordava como a alma apreendida
dessa tristeza que tu me julgas.
Então, aonde se encontrava?
Entre estas gentes?
Falando que palavras?
Por que me chega todo este amor de um golpe
quando me sinto triste, e te sinto longe?
Caiu o livro que sempre se toma no crepúsculo,
e como um cão ferido tangeu aos pés minha capa.
Sempre, sempre te distancias entre as tardes
onde o crepúsculo corre maculando as estatuas.
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008
Persepolis: o próximo filme que vou assistir

ENTRA EM CARTAZ EM BELO HORIZONTE NO DIA 22 DE MARÇO.
sábado, 23 de fevereiro de 2008
Hino Nacional Brasileiro
HISTÓRIAS DE AMOR

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
Falso Testemunho
E escondo a verdade no coração.
SETE CIDADES
SETE CIDADES, a linda canção de Renato Russo, lançada no álbum "Legião Urbana", de 1984, foi transformada em quadrinhos pelo ilustrador paulista Rogério Hanata.
Sete Cidades
(Renato Russo/Marcelo Bonfá/Dado Villa-Lobos)
Já me acostumei com a tua voz/Com teu rosto e teu olhar/ Me partiram em dois /E procuro agora o que é minha metade /Quando não estás aqui /Sinto falta de mim mesmo /E sinto falta do meu corpo junto ao teu/ Meu coração é tão tosco e tão pobre /Não sabe ainda os caminhos do mundo /Quando não estás aqui /Tenho medo de mim mesmo/ E sinto falta do teu corpo junto ao meu /Vem depressa pra mim/ Que eu não sei esperar /Já fizemos promessas demais /E já me acostumei com a tua voz /Quando estou contigo estou em paz /Quando não estás aqui /Meu espirito se perde/Voa Longe/longe...
Quando ela me tocou da primeira vez
De leve
Sequer percebi
Na verdade era só um olhar de longe
Que nem chegou a alterar
A ordem dos elementos.
Ela apenas passou como uma rajada de vento
Acariciando minhas vestes, causando um pequeno tremor
Ela soprou o suor da minha face
Sob o sol quente
E depois voou
Mas ela caminhou sobre as folhas secas
Contra o meu silêncio
Para fazer carinhos nos meus cabelos
Primeiro ela vasculhou cantos escuros do meu apartamento
As frestas das portas
Os vãos de janelas
Procurando o pó sobre os meus livros
Afastando as cortinas
Para fazer entrar
A luz do sol.
E, sem saber de onde vinha
Senti seu cheiro
Como se a primavera inteira
Viesse me visitar
Pela primeira vez
Uma gota de água sobre o solo seco
Como o primeiro sabor nos lábios de alguém faminto
Um rio repentino para quem morreu de sede.
Ela é o ar que se chama vento
Por carregar o pólen nos dedos
E cultivar o mundo inteiro
Ela é o ar que leva o nome de alento
Por me obrigar a respirar no abismo
Insuflar o peito e voar
Contra os rochedos
Ela me fez sonhar, como Ícaro,
Que ao homem é permitido ir ao sol e pousar
Meus gigantes de pedra
Monstros horrendos
Graças a ela tornaram-se apenas moinhos de vento.
DRUMMONDIANO
Ignoro, imagino
Tendo como certo e absoluto
O fato de não estar bem certo
Não sei, mas creio
E o que não conheço, suponho
Tudo o que tenho na minha vida são duas mãos
E um sonho.
VOLTAIRE (François Marie-Arouet, 1694-1778)
Tradução por Mário Quintana (1906-1994)
O grande mago propõe primeiro a seguinte questão:
- Qual é, de tôdas as coisas do mundo, a mais longa e a mais curta, a mais rápida e a mais lenta, a mais divisível e a mais extensa, a mais negligenciada e a mais irreparávelmente lamentada, que devora tudo o que é pequeno e que vivifica tudo o que é grande?
Cabia a Itobad falar. Respondeu que um homem como êle nada entendia de enigmas e que lhe bastava ter batido os adversários a lançaços. Disseram uns que a chave do enigma era a fortuna, outros a terra, outros a luz. Zadig disse que era o tempo. "Nada é mais longo - acrescentou êle, - pois que é a medida da eternidade; nada é mais curto, pois que falta a todos os nossos projetos; nada mais lento para quem espera; nada mais rápido para quem desfruta a vida; estende-se, em grandeza, até o infinito; divide-se, até o infinito, em pequenez; todos os homens o negligenciam, todos lhe lamentam a perda; nada se faz sem êle, faz esquecer tudo o que é indigno da posteridade, e imortaliza as grandes coisas". A assembléia deu razão a Zadig.
Perguntaram em seguida: "Qual é a coisa que se recebe sem agradecer, que se desfruta sem saber como, que damos aos outros quando não sabemos onde é que estamos, e que perdemos sem o perceber?"
Cada qual deu a sua explicação. Apenas Zadig adivinhou que se tratava da vida.
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
Não por Acaso: destinos que se cruzam nas ruas de São Paulo
Assista ao trailer
Não por acaso , Brasil, 2007 - 90 min
Direção:Philippe Barcinski Roteiro:Philippe Barcinski, Fabiana Werneck Barcinski e Eugênio Puppo Elenco: Leonardo Medeiros, Rodrigo Santoro, Letícia Sabatella, Rita Batata, Branca Messina, Cássia Kiss e Graziella Moretto. Disponível em DVD.
DESTINOS CRUZADOS
Nossa vida está condicionada aos nossos deslocamentos pelo espaço. Para satisfazer nossas necessidades de consumo, lazer, saúde, para trabalhar e ir ao encontro das pessoas queridas, precisamos nos deslocar. O que necessitamos está sempre lá adiante, nunca os nossos desejos estão onde estamos. E por isso precisamos buscar, partir, procurar; assim, o trânsito urbano é parte da qualidade da nossa vida. A fluidez do tráfego é diretamente relacionada ao sucesso de nossas buscas e expectativas. Ir e voltar, procurar outro caminho, eleger outro destino dependem necessariamente de encontrar a estrada livre e aberta adiante. O congestionamento atrasa o futuro. Por isso, o papel das pessoas que organizam, controlam e coordenam, não raro anonimamente, o trânsito de nossas cidades, é tão importante, fundamental para que a metrópole ande para frente.
Não se têm notícia de que alguma vez o cinema tenha retratado um desses personagens anônimos que, detrás de um terminal de computador, com os olhos fixos em telas de câmeras de monitoramento de tráfego, ajudam a cidade a se deslocar, os carros a obedecer os fluxos dos semáforos, e os nós a serem desfeitos. “Não por Acaso”, filme de 2006 dirigido por Phillipe Barcinski e com Leonardo Medeiros no papel de Ênio, engenheiro de trânsito da CET, Companhia de Engenharia de Trânsito de São Paulo, mosta a rotina dentro de uma sala de controle de trânsito. Diante dos monitores, os técnicos se revezam dia e noite para administrar o emaranhado de semáforos de uma cidade gigantesca como São Paulo, "a cidade que não pára". Embora registre todos os dias centenas de quilômetros de congestionamentos. O filme de Barcinski, que conta no elenco também com Rodrigo Santoro, Graziella Moretto, Letícia Sabatella, Branca Messina, Cássia Kiss e a estreante Rita Batata, vai além do puro registro das particularidades desse tipo de atividade, para se imiscuir na vida pessoal do protagonista. Depois de fracassar no casamento, Ênio se vê diante de outro drama: um acidente de trânsito. Justamente a situação que seu trabalho cotidiano busca evitar a todo custo. É a fatalidade, o imponderável, que nenhum sistema, nenhuma máquina, nenhuma tecnologia consegue prever. O acidente, paradoxalmente, coloca Enio diante das escolhas que nunca quis fazer na vida, que em sua rotina meticulosa jamais precisou confrontar. Por exemplo, saber que tem uma filha (Bia, papel de Rita Batata) da qual precisa agora cuidar. Como diz o website do filme (www.naoporacaso.com.br) “manejar a emoção desse encontro será mais difícil que controlar o trânsito de São Paulo”. Em paralelo e simultaneamente, acompanhamos a história de Pedro, vivido por Rodrigo Santoro, que herdou do pai o ofício de fabricante de mesas de bilhar. Tal como Ênio, Pedro acha que pode controlar a vida como se fosse um jogo, que pode vencer o adversário aplicando sempre os mesmos lances, que o risco de qualquer jogada pode ser calculado, que a tacada perfeita pode ser reproduzida indefinidamente. O mesmo acidente de trânsito, o mesmo imprevisto que muda a vida de Ênio vem mudar o rumo e as escolhas de Pedro. Um filme para mostrar que o trânsito não é só feito de automóveis: há pessoas dentro dos veículos, há histórias de vida que se entrecruzam continuamente, há paradas e atrasos indesejados nas rotinas, nas buscas e aventuras humanas das quais uma cidade é construída. E também há finais abruptos, perdas inexplicáveis, seqüelas que duram toda a vida. Quando um semáforo abre, aquele que fica na outra rua se fecha. Enquanto um fluxo se estanca, aquele que o cruza flui. Tal como a vida.
Cada verso meu será... (poemas autorais)
ANOS-LUZ
Olavo Duarte
Às vezes leva dias pra eu te ver:
Porque há anos-luz no teu olhar.
(primavera de 2006)
Um pouco de Neruda
(Ricardo Neftáli Reyes, 1904-1973)
Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço onde a claridade está presa.
há que sentar-se na beira do poço da sombra
e pescar a luz caída
com paciência.
(dos "Últimos Poemas")
Aurora Borealis
