quinta-feira, 3 de abril de 2008

O Perguntador

O que dizer do mundo em que as condições de vida de bilhões estão abaixo do mínimo da dignidade e alguns poucos oferecem a seus cães uma vida mais decente que a de um ser humano?O que dizer de um mundo em que o imperativo econômico dos grandes conglomerados está acima da paz entre os povos, em que um barril de petróleo é mais importante que o alimento de centenas de indivíduos, que um diamante que adorna o belo pescoço da dama da sociedade custou a vida de mais de um negro africano, nas intermináveis guerras pelo domínio da extração das pedras preciosas? O que dizer, meu amigo, sobre o maluco que provocou a morte de um semelhante dirigindo na contramão da avenida e está livre para cometer outros atos impunes, sobre os quais a lei dos homens mais uma vez se omitirá e usará o direito em favor dos que por ele podem pagar um pouco mais? O que dizer da mulher exposta no horário nobre, vendendo sua sexualidade, sua beleza por um punhado de níqueis para que as outras definhem tentando imitá-la na sua inacessível magreza de espírito e de organismo? o que dizer dos arrogantes que fazem das suas fortalezas móveis que andam nas ruas as armas da sua prepotência e do seu narcisismo, que literalmente atropela os obstáculos a seu desejo do imediato e do excesso? O que dizer, meus Deus, dos que matam e morrem pelas seus pequenos caprichos, que não sabem que o outro vive ao lado e que também deseja, que também ama, que também precisa ir e voltar? O que dizer para aqueles que compram a lealdade, que vendem suas convicções, que negociam na bacia das almas o preço irrisório da própria dignidade? E aos que faturam com a degradação, com a miséria humana, com os dramas que não lhe pertencem, o que dizer? O que dizer para aqueles que financiam a máquina dos esquemas corrompidos, que facilitam a entrada dos ladrões, que fingem não ver a infração e o erro, que se omitem diante da injustiça e do crime? O que dizer aos invejosos, aos ignorantes, aos estúpidos, aos falsos, aos que não são o que dizem ser, aos que não tem coragem de admitir a fraqueza e se fazem de fortes para não ter que pedir apoio, conselho, perdão ou desculpas pelo que fizeram? O que dizer dos que querem ter sempre razão, sempre certeza, sempre justificativas para todos os atos, que acham que os fins permitem qualquer meio, qualquer método e todo tipo de estratégia? Será que vamos todos calar em uníssono?

terça-feira, 1 de abril de 2008

JESUS DE MONTREAL


Estou com vontade de assistir de novo esse belo filme de Denys Arcand, laureado com o Oscar por "As Invasões Bárbaras" em 2003. "Jesus de Montreal", com Lothaire Bluteau no papel principal, conta-nos a história do ator Daniel, que é escalado por uma paróquia de Montreal para encenar uma peça da Paixão de Cristo. Feita a escalação do "elenco", Daniel dá início à pesquisa que o leva a conhecer profundamente o personagem que interpretará. Quando a peça começa a ser encenada, os párocos da igreja percebem que Daniel está sendo um tanto quanto "liberal" demais e decidem interditar a apresentação. Mas aquela igreja jamais tinha visto tanto público e tanto sucesso na Semana Santa. Mesmo assim, a trupe de Daniel começa a ter problemas com o sucesso extraordinário, num paralelo perfeito com a história de Jesus Cristo, que em sua época também pagou um alto preço pela "popularidade" e pelo carisma. É comovente a cena em que Daniel, irritado com o assédio da imprensa, destroí completamente o equipamento de filmagem - nem precisa dizer que é uma alusão aos "vendilhões do templo" contra os quais Cristo se rebela. Tanto em um caso com no outro, esta é a gota d' água para que Daniel deixe a condição de "superstar" e passe a de "inimigo público", "agitador subversivo" e comece a ser procurado pela polícia. O final me trouxe lágrimas aos olhos. Assisti a esse filme em uma Sexta-Feira da Paixão de muitos anos atrás. Pena que ainda não tem em DVD no Brasil...

Assista ao trailer:
http://video.google.com/videoplay?docid=-3251535406017380277