segunda-feira, 27 de abril de 2009

CARTA PARA O FUTURO

Quando isso chegar a seu conhecimento
Já terá acontecido como passado
Vai ficar o relato guardado contigo para o tempo
como a história que lida num livro
volta a ser

Isto é o dia de hoje
dias e dias depois, e é o
Conto do instante em que está sendo
para você saber
que, quando ler o que está escrito,
ainda será assim do mesmo jeito.

APRENDER A CAIR

Caio leve
como neve
para cobrir com um manto branco
o chão
Mas é
Para matar de frio e
Para virar avalanche
Que desabo suave do céu.

A chuva para encher o rio
e virar inundação
Não precisa ser tempestade:

Pode cair de mansinho.

ILHA DE SANTA HELENA *

Trabalha para o dia já perdido
Um pouco de sangue para o fim do tempo
Vai buscar o sustento dos sonhos já desfeitos
Nas intermináveis filas
Perca-se mais uma esperança, de todas as que já foram perdidas
A batalha mais importante da guerra:
Vencida.



*Napoleão Bonaparte morreu exilado na Ilha de Santa Helena.

domingo, 26 de abril de 2009

TONGUE TIED

TONGUE TIED (República Tcheca, 2004, 4min30s. Direção por Emily Sheskin. Com Ivo Hrbac, Marina Vradiy, Lenka Novotna)

sexta-feira, 24 de abril de 2009

ÍMPETO AFOITO

É a angústia que me controla os atos
E a inquietação quem me guia pelo caminho torto
Em buscar aflito o que me acalmaria
é a solidão que insiste em ter companhia para a noite
Mas do que nos serve a calmaria quando
desesperada pelo mar
Navega contra o vento
Do que vale a onda que se atira na pedra
Se morre na praia a maré cheia?

CONVERSA DE MULHERES

Alguém me contou que te viu
hoje de tarde
Disseram que você estava brava
e se referiu a mim com nomes feios
Depois, às gargalhadas
Falou mal de todas as bobagens masculinas
E disse que eu era um dos piores da sua vida.
Esse alguém não soube, porém,
que na escuridão do seu quarto
Junto com a raiva que você sentia
vieram as lágrimas.

terça-feira, 21 de abril de 2009

METADE DE DOIS

Meu amor é um ser inválido:
Tem apenas dois pés e dois braços

Amores comuns
Costumam ter quatro.

REMÉDIOS DO AMOR

REMÉDIOS DO AMOR (Brasil, 2002, 19 min. Direção por João Vargas Penna. Com Andrea Caruso, Bruno Murtinho, João Faleiro, Luciana Brites, Paulo André, Rodrigo Signoretti. Música por Marco Antônio Guimarães. Filmado no Edifício Niemeyer, Praça da Liberdade, em Belo Horizonte e em Ouro Preto)
ASSISTA no Porta Curtas (www.portacurtas.com.br)

Remédios do Amor

A ÍNTEGRA DO ROTEIRO

(Adaptado do "Sermão do Mandato" [1643] do Padre Antônio Vieira, [1608-1697])REMÉDIOS DO AMOR
CORO
(off)
Diz que é de amor, e de amor nosso, e de amor incurável: de amor: de amor nosso: e de amor incurável, e sem remédio:
VIEIRA
(off)
Tudo conquista o amor, quando conquista uma alma; porém o pri-meiro rendido é o entendimento. Usar de razão, e amar, são duas coisas que não se ajuntam.
CORO
(off)
Diz que é de amor, e de amor nosso, e de amor incurável: de amor; de amor nosso;e de amor incurável, e sem remédio
VIEIRA
(continua em off)
O amor deixará de variar, se for firme, mas não deixará de tres-variar, se for amor.
VIEIRA
(em off)
São afeições como as vidas, que não há mais certo sinal de have-rem de durar pouco, que terem durado muito;
VIEIRA
(continua, off)
São como as linhas, que partem do centro para a circunferência, que quanto mais continuadas, tanto menos unidas.
VIEIRA
(off)
De todos os instrumentos com que o armou a natureza, o desarma o tempo. Afrouxa-lhe o arco, com que já não tira;
VIEIRA
(off)
embota-lhe as setas, com que já não fere; abre-lhe os olhos, com que vê o que não via; e faz-lhe crescer as asas, com que voa e foge.
VIEIRA
(off)
Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba.
VIEIRA
(off)
Atreve-se o tempo a colunas de mármore, quanto mais a corações de cera?
VIEIRA
(off)
Por isso os Antigos sabiamente pintaram o amor menino; porque não há amor tão robusto que chegue a ser velho.
VIEIRA
(off)
O segundo remédio do amor é a ausência. Muitas enfermidades se curam só com a mudança do ar; o amor com a da terra.
VIEIRA
(off)
É o amor como a Lua, que em havendo Terra em meio, dai-o por eclipsado.
VIEIRA
(off)
E que terra há que não seja a terra do esquecimento, se vos passastes a outra terra? Se os mortos são tão esquecidos, havendo tão pouca terra entre eles e os vivos; que podem esperar e que se pode esperar dos ausentes?
VIEIRA
(off)
Se quatro palmos de terra causam tais efeitos; tantas léguas que farão? Em os longes passando de tiro de seta, não chegam lá as forças do amor.
VIEIRA
(off)
Os olhos são as frestas do coração, por onde respira; e daqui vem, que o coração na presença, em que tem abertos os olhos, por eles evapora e exala os afetos;
VIEIRA
(continua, off)
porém na ausência, em que os tem tapados pela distância, que lhe sucede? Assim como o vaso sobre o fogo, que tapado e não tendo por onde respirar, concebe maior calor, e o reconcentra todo em si e talvez rebenta,
VIEIRA
(continua, off)
assim o coração ausente, faltando-lhe a respiração da vista, e não tendo por onde dar saída ao incêndio,(continua)
VIEIRA
(continua, off)
recolhe dentro em si toda a força e ímpeto do amor, o qual cresce naturalmente, e se acende e adelgaça de sorte, (continua)
VIEIRA
(continua, off)
que não cabendo no mesmo coração, rebenta em maiores e mais extraordinários efeitos.
VIEIRA
(em off)
A natureza e a arte curam contrários com contrários. Sendo pois a ingratidão o maior contrário do amor, quem duvida que este ter-ceiro remédio seria também o último e o mais presente e eficaz…?
VIEIRA
(em off)
A virtude que lhe dá tamanha eficácia, se eu bem o considero, é ter este remédio da sua parte a razão.
VIEIRA
(em off)
Diminuir o amor o tempo, esfriar o amor a ausência, é sem-razão de que todos se queixam; mas que a ingratidão mude o amor e o con-verta em aborrecimento, a mesma razão o aprova, o persuade, e pa-rece que o manda.
VIEIRA
(em off)
Que sentença mais justa, que privar do amor a um ingrato? O tempo é natureza, a ausência pode ser força, a ingratidão sempre é delito.
VIEIRA
(em off)
O tempo tira ao amor a novidade, a ausência tira-lhe a comunica-ção, a ingratidão tira-lhe o motivo.
VIEIRA
(em off)
E ferido o amor no cérebro, e ferido no coração, como pode viver?
VIEIRA
(em off)
É pois o quarto e último remédio do amor, e com o qual ninguém deixou de sarar, o melhorar do objeto. Dizem que um amor com outro se paga, e mais certo é, que um amor com outro se apaga.
VIEIRA
(em off)
Assim como dois contrários em grau intenso não podem estar juntos em um sujeito;
VIEIRA
(continua, em off)
assim no mesmo coração não podem caber dois amores; porque o amor que não é intenso, não é amor.
VIEIRA
(continua, em off)
Daqui vem, que se acaso se encontram e pleiteiam sobre o lugar, sempre fica a vitória pelo melhor objeto.
VIEIRA
(continua, em off)
É o amor entre os afetos, como a luz entre as qualidades.
(off)
Diz que é de amor, e de amor nosso, e de amor incurável: de amor; de amor nosso;e de amor incurável; e sem remédio…
(…continua, em off)
Comumente se diz, que o maior contrário da luz são as trevas, e não é assim (continua…)
VIEIRA
(…continua, em off)
O maior contrário de uma luz, é outra luz maior.
VIEIRA
(continua, em off)
As estrelas no meio das trevas luzem, e resplandecem mais; mas em aparecendo o Sol, que é luz maior, desaparecem as estrelas.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

HISTORINHAS CURTAS (2)

Aqui de novo flagrantes da vida alheia. Pequenos cotidianos, iguais aos de muita gente que eu conheço, parecidos com os dias que já vivi e vivo. Só as histórias é que falam de pessoas imaginárias, criadas -eu já falei sobre isso antes - pela imaginação de um autor ou de um roteirista. Mas as histórias poderiam ser de qualquer um de nós. Afinal, todos nós já vivemos a descoberta do primeiro amor, assim como da primeira desilusão amorosa; todos nós temos histórias alegres, divertidas e cômicas sobre a juventude, e um ou outro caso escabroso para esconder. Coisas do tipo fumar no corredor morrendo de medo de papai ou mamãe descobrir. Também eu e você já passamos pela aventura do primeiro emprego, do primeiro divórcio, do primeiro pedido de demissão. Esses curtas falam de descobertas, de redescobrimentos, de reviravoltas na vida necessárias para começar de novo, falam de ritos de passagem, da dura jornada a fase adulta da nossa existência, quando deixamos de ser para nos tornarmos, quando temos que deixar muita coisa de lado para formarmos a personalidade que vamos passar a ter.

ESPALHADAS PELO AR (Brasil, 2007.15 min.Dirigido por Vera Egito. Com Ana Carolina Lima, Estevan Santos, Renata Torralba Horta
ESPALHADAS PELO AR

ENGANO
(Brasil, 2008, 11 min. Direção por Cavi Borges. Com Felipe Mônaco, Miila Derze

ENGANO

PERTO DE QUALQUER LUGAR (Brasil, 2007, 17 min. Direção por Mariana Bastos Com Caroline Abras (Gabi), Rafael Losso (Tom), Renata Gaspar (Julia), Victor Ribeiro (Rafa)

PERTO DE QUALQUER LUGAR

MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE UM EDITOR DE PASSOS
(Brasil, 2006, 16 min. Direção por Daniel Turini. Com Eduardo Gomes, Fernando Sato, Rita Batata, Vinícius Piedade)

MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE UM EDITOR DE PASSOS

quinta-feira, 9 de abril de 2009

EARLY MORNIN'

Uma luz acesa, outra apagada
A cidade semi desperta
Meio (des)acordada

Ainda sonham os notívagos
Perambulam sonâmbulos
Os que trabalham já se levantaram
para a crua realidade da luz do dia.

quinta-feira, 2 de abril de 2009


Achei mais uma adaptação para o cinema do conto "Noites Brancas" de Dostoiévski. Desta vez, trata-se de "Belye Nochi" (em círilico, белые ночи), dirigido por Ivan Pyryev com a atriz Lyudmila Marchenko no papel de Nástenka, Oleg Strizhenov interpretando o Sonhador sem nome e Anatoli Fedorinov fazendo o Inquilino. Essa versão do clássico de Dostoiévski segue à risca o texto original, ambientando a história de Nastenka e o Sonhador em São Petersburgo e na época histórica do conto dostoievskiano. Mas o diretor se permite "viajar" um pouco na imaginação dos protagonistas: quando o Sonhador fala dos seus sonhos e delírios, as imagens (de uma adorável singeleza) mostram-no nas situações em que ele se projeta; da mesma forma, quando Nastenka pensa em se "casar com um príncipe chinês" temos realmente as imagens de seus devaneios. Em "Belye Nochi" o Sonhador, já velho e decrépito, habitando uma espelunca suja e enfumaçada, relembra aquelas quatro "noites brancas" em que conheceu a mulher da sua vida, que quatro dias depois viu desaparecer da sua visão para sempre nos braços do Outro Qualquer.

[sem título]

Diz que foi sem querer:
Mas já quis -
E me fez infeliz por vontade
E me fez mal sem maldade

A vilã de filme infantil
Magoa de um jeito gentil
Me engana de boa fé

ADORNO

Rosáceas nos cabelos
Volutas nos dedos
Mármore nos seios
Pedras raras nos olhos negros:
Castelo de desejo.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

NÃO SUMI

Escolho a data de hoje, 1º de abril, dia da mentira, para voltar a mexer no meu blog. Não é mentira que eu ando meio "preguiçoso" quando se trata de me manter em dia com a tarefa de postar minhas coisas aqui. Também não deixa de ser verdade que hoje em dia as coisas andam meio mornas, meio sem novidades. Não estou apaixonado por ninguém, não vi nenhum filme legal (embora tenha vários na "fila" pra ser assistidos), não li nada de interessante ultimamente. Minha vida tem sido o trabalho, que está tranqüilo, e as precupações de praxe. Quando criei esse "Menino Homem" a tempos atrás, eu esperava ter assunto pra todos os dias, achava que tinha que falar de tudo, mesmo quando não tivesse nada pra dizer. O tempo passou, passou também a empolgação da novidade. Falei em outro lugar aqui no blog que sempre acontece isso com quem se aventura a ter uma "faceta no ciberespaço". Acontece de tempos em tempos isso de a gente deixar o ciberespaço de lado para cuidar de coisas da Terra, para lidar com fatos concretos, agir off-line. É talvez o que esteja acontecendo atualmente. Mas hoje, justamente no dia em que nada que se diga pode ser levado a sério, é que eu volto à lida. Se for mentira, se amanhã mesmo eu sair de novo pra só voltar daqui a não sei quantos dias, a culpa não é minha...quer dizer, é sim.