sexta-feira, 13 de março de 2009

TRACEY THORN: "RAISE THE ROOF"

Tracey Thorn é da dupla britânica Everything But the Girl. O timbre delicado e doce da sua voz, as canções com levadas que às vezes lembram a nossa boa e velha bossa nova, as letras inspiradas, têm sido a minha trilha sonora ultimamente. Essa "Raise the Roof" encanta pela simplicidade do arranjo, pela batida eletrônica não tão "batida" como as músicas que são feitas hoje em dia e sobretudo por este vídeo, com sua singela historinha de amor. "Raise the Roof" é do trabalho solo de Tracey, "Out of the Woods", de 2007. Ouça.
Para mais coisas sobre Tracey, visite o site dela:

"Raise the Roof", o vídeo, foi dirigido por Eduard Grau e filmado em Bucareste, na Romênia.

terça-feira, 10 de março de 2009

NÃO DEVERIA SABER

Um tolo contaria
Para o inimigo
O segredo.
Eu disse a ela
Tudo o que eu sentia.

Terceiro sobre a leveza

No ar, a palavra mais simples
desenha a história
Que vou contar amanhã
Depois de descansar.

O JOGO DA MEMÓRIA

Colho fragmentos:
São cacos
Quando volto o tempo

No caminho
Ecos indistintos
E incompletos

Vaga impressão
De já ter visto
Pois faz tanto

Só que isto
Já não faz sentido.

PAS-DE-DEUX *

Daí a gente dança
Que nem gente grande
Eu de longe e você por aí
- a música de fundo sem harmonia -
Então fica assim:
a gente fica agora e ainda hoje se esquece
Você de tudo e eu de mim.

* no balé clássico, é a coreografia executada por um casal de bailarinos.

TODAS AS OUTRAS

Não fosses tu a melhor de todas
As mulheres verdadeiras
Dessas que por não serem perfeitas
São lindas
Daquelas em que erros e enganos têm razão de ser
Não fosses tu a mais estranha
das desconhecidas
Se fosses banalmente natural,
Se estivesses, como todas, atada à superfície
Se os sorrisos e os cosméticos
Ou as lágrimas
Mentissem por você
Certamente eu não te amaria.

ACONTECEU COMIGO

Veja o que está escrito:
é tudo o que eu disse desde o início
Gosto de contar e recontar
o que aconteceu comigo
Leia o que foi visto
Pense nisso
É o que eu diria se te visse
Gosto de pensar que tudo isso
Está no ar
Guarde os retratos, os recados
os registros
Se um dia qualquer
você se lembrar

domingo, 1 de março de 2009

RARE BOOKS AND MANUSCRIPTS

RARE BOOKS AND MANUSCRIPTS (Inglaterra, 2005, 12 min. Direção por Bruce Webb. Com Neve McIntosh, Alexander Giles e Ian Mosby)



Numa tranqüila biblioteca, a tímida Jess apaixona-se por um rapaz e, depois de conseguir "roubar" o número do cartão dele, começa a enviar para ele livros cujos títulos formam mensagens secretas. Mas Jess também anda recebendo livros de nomes estranhos, que também formam frases com sentido completo. E mais: se o seu muso tem uma namorada, que um dia vai buscá-lo na biblioteca, quem será o seu "admirador secreto"?

rare books and manuscripts

BEM NA FITA

Gente! Olha só a nota que saiu no "Hora da Reflexão", boletim quinzenal que é publicado na empresa onde trabalho. A matéria fala maravilhas sobre o meu modesto Menino Homem. Eis a íntegra da nota:

(abre aspas)

A internet oferece uma ampla variedade de recursos para promover relações interativas entre seus usuários, mas os blogs são uma ferramenta que tem ganhado grande popularidade atualmente e se tornaram uma verdadeira febre. Se você é um dos poucos seres não familiarizados com tema, o blog é uma espécie de diário digital onde o internauta pode publicar textos, imagens e músicas. Neles é possível ver de tudo: do antigo diário das adolescentes, antes trancado a chaves, até conteúdos específicos sobre temas acadêmicos, empresariais ou culturais; notícias do dia-a-dia; ou o que mais passar pela cabeça do blogueiro. Um blog que merece ser visitado é o Menino Homem, criado por nosso colega Olavo Duarte, da GPROM e que traz poesias (muitas delas de autoria do próprio Olavo), curiosidades, notas históricas, atualidades, crônicas, críticas, vídeos, charges e muitas dicas culturais. Também vale muito a pena ler as postagens mais antigas, onde você vai encontrar resenhas e críticas sobre filmes, animações e curtas escolhidos a dedo. Uma leitura muito agradável e bastante educativa. Não deixe de conferir.

(fecha aspas)

DUAS MINHAS

FALSO PUDOR

De tudo, só sei um pouco:
É o que me basta para querer
o que me falta
Do mundo, apenas a parte que me cabe
faz pretender o que resta
A fresta da porta entreaberta
permite-me adivinhar
um vulto envolto num véu de ar
que deixa o segredo à mostra:
uma jóia por trás de uma parede.



O ÁLIBI

Ela me deixava ao mesmo tempo desconcertado e comovido
O engraçado susto que era repentino
E o constante sobressalto de costume
O fato de já saber dos descompassos, de já adivinhar
No tempo quando ela ia chegar
Deixava-me tão aflito de esperar
Que nenhuma surpresa seria novidade
Pairava então a expectativa no ar
E por mais que eu tentasse disfarçar
Eu era o principal suspeito.

EU NÃO TE AMO

Tens razão: eu não te amo
Porque mal te conheço:
Só vi até agora a superfície do oceano
Não passei do toque suave da seda do vestido
É verdade sim que não te amo
Mas desejo aprender qual é o caminho
E quero saber o que há e está escondido
Conhecer o segredo tão protegido
dentro do espelho.
Sim, não te amo, não
Porque não fui ao abismo,
Talvez por medo,
Porque não desci ao inferno contigo
Para te dar a mão no desespero
Também não estivemos no céu porque
Estivemos parados olhando para o chão

Quando o teu sorriso seria o meu sol noite e dia,
Não te procurei pelos lugares aonde você ia.

Não te amo, porque não me confundi contigo
E também porque não me perdi no meio de tudo
Para te encontrar.

Talvez um dia eu te diga tudo isso.

CAIXA DE PASSADO

Presente no meu dia é o que já foi longe no tempo
Recorda-se de repente algo do passado
Voltam os relógios para o instante do começo
Torna a tocar desde o início a melodia.
E eu me sinto como se nascesse agora
Para a época em que eu não sabia que já estava vivo
Porque a voz que por dentro se calava
Não me havia dito.
Retorna a impressão inicial da novidade,
Repete-se a surpresa
O segredo deixa de ser revelado
Para ser redescoberto.

UM DRUMMOND

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

(1902-1987)

AMAR

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

O SONHO DO CARACOL

El Sueño del Caracol [Schneckentraum] (Espanha, Alemanha,2001, 15 min. Direção por Iván Sáinz-Pardo,com Julia Brendler, Fabian Busch)