sábado, 28 de novembro de 2009

"RETALHOS" (Blankets)




Ontem eu mandei uma carta para o desenhista americano Craig Thomspon, gentilmente traduzida para o inglês pela minha amiga Aline Rabelo. Nela, eu peço para ele me enviar um desenho autografado por ele de seu "Retalhos" (Blankets) uma caudalosa história em quadrinhos - mais de 500 páginas! O autor esteve em Belo Horizonte em setembro, onde foi a estrela do FIQ - Festival Internacional de Quadrinhos, em sua sexta edição na cidade. Eu conhecera a obra de Thompson ao baixar "Blankets" no E-mule, completamente por acaso, em uma versão para o espanhol. Estava procurando aleatoriamente histórias em quadrinhos e me deparei com esta bela história. Tempos depois, também por acaso, fui ao cinema assistir "De Profundis", de Miguelanxo Prado (também quadrinista) e esperando pela sessão das cinco, entrei na livraria e comecei a folhear uns livros, apenas para passar o tempo. Qual não foi a minha supresa quando, ao olhar para uma estante, dei de cara com o livro. Não pensei duas vezes antes de sacar o cartão do bolso e gastar R$45,00 (caro!) na bela edição da Companhia das Letras, um calhamaço que quase não coube na minha bolsa. Fui andando para casa depois do filme, estava uma bela tarde de domingo, de clima agradável, não estava fazendo o calor que nos açoitara a semana toda. Durante a caminhada, fui lendo e me tornando amigo de Craig e de seu irmão Phil, conhecendo a história dele desde a infância na interiorana Marathon, uma cidadezinha nos cafundós do estado de Wisconsin. Craig nos conta de sua rígida educação numa família cristã, do árduo trabalho no campo, das bricadeiras e do relacionamento com o irmão mais novo - em uma casa "velha e com problemas de ventilação e de aquecimento", os dois tinham que dividir a mesma cama. O que o fazia se distanciar da dura realidade, do abuso sexual do baby-sitter (isso mesmo: o babá dos meninos era um homem), das humilhações na escola, do frio excessivo no inverno e do calor escaldante do verão, da brutalidade do pai, era se refugiar na fantasia, nos sonhos e nos desenhos, talento que Craig desde cedo relevou.
Mais o que mais me encanta na história de "Retalhos" é a narrativa da mais sublime e traumática experiência pela qual todos nós passamos: o primeiro amor. Numa colônia de férias da igreja Batista, Craig conhece Raina, uma garota "rebelde", impulsiva, cheia de personalidade, mas absolutamente encantadora, autêntica e linda, dessas pelas quais não é difícil se apaixonar. Essa experiência irá moldar para sempre a sua vida.



"Retalhos" (2003)
THOMPSON, Craig
Título original: "Blankets"
Edicão em português da Companhia das Letras
Tradução por Érico Assis
23 x 15,8 cm 1ª Edição - 2009
preço médio: R$49,00

(ainda sem título)

Essa cidade imensa
Ficou pequena
Para minha dor
Quando me pus a caminho
Para voltar para o meu deserto
Por ruas onde há mais sofrimento e desespero
Do que o que eu sinto por dentro
E me envergonho de chorar sem motivo
Quando me comparo com o mendigo
Sem pão e sem amor
Enquanto eu sigo para o meu castelo.

Vejo os que não tem destino
Vagando para o ermo
Quem sabe procurando tanto quanto eu
Eu que pensei que já tinha me encontrado.
Vejo o que não tem o que comer
E se veste com trapos
Que mal podem esconder a fome e o frio
Enquanto eu choro a minha arrogância de não ter
Um tesouro
Envergonho-me de protestar por causa disso
Enquanto há tantos que já nem podem falar
E pedir abrigo.

SEGUNDO SOBRE O CACTO

Ao contrário do que se pensa
os espinhos é que têm flores.

A OUTRA LEITURA DE NARCISO

Eu me apaixonei pela minha imagem vista por ti
desde a primeira vez em que me vi e não era eu mesmo
quase não me reconheci ao olhar-me no espelho:
eu era o olhar de um outro ser.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

QUANDO VOCÊ VOLTAR

Volte para mim
Mas não para hoje:
Volte para o começo
Antes de nos vermos

Volte o tempo
Os passos para trás
Para repetir do mesmo jeito
o que nós dois fizemos

Volte a dizer seu nome
porque eu não me lembro direito

volte para não dizer o que não deveria ser dito
para antes do erro
para o primeiro momento

Volte a não ser
a não ficar
para eu desejar
de novo conhecer
a estranha
que acaba de chegar.

PRIMEIRO SOBRE O CACTO

Encontrando no agreste um cacto
terei água para a sede.
Arrancarei os espinhos
Delicadamente.

O CORREDOR

Caminho contra o concreto
Mas é amargo o gosto do chão
Não corro porque o ar me empurra
De volta ao começo
Esbarro em desencontro
Perco o rumo quando cruzo o erro
Às voltas em torno de mim mesmo

(IMEDI)ATO

Sem querer você sabe
mesmo sem saber
O que há sobre mim
mesmo sem me ver a tanto tempo
tudo é imediato:
assim que sinto
vai um vento
e te diz.

ARMISTÍCIO

Eu me faço de difícil
Apenas para dizer que eu estou disponível
O tempo todo para você
Se eu proponho me render
É que estou disposto a conquistar você
E me comprometer de vez em teus desígnios
O meu pretexto é uma armadilha
Para que você
Que pensa ter o domínio da situação
Caia em contradição
Se eu proponho um jogo
É para perder
E poder negociar uma rendição:
Eu só aceito me entregar com uma condição
Que você me leve contigo.

O MAR EM VÃO

Envelheceram as horas de espera:
Deu-se o cansaço da esperança, por fim
Os que ficaram olhando o mar
Tentando ver o navio
Que os iria levar
Voltaram para o abismo
Já não era sem tempo desistir
A falta promessa de um messias
Dom Sebastião que viria nos buscar
Era apenas uma fantasia.

DIAMANTINA

Boa parte do pouco que consegui
graças a tudo o que pus a perder
é muito menos que te entrego
Esse tesouro que te ofereço como dote
É produto do tempo que passei colhendo, embaixo do fundo do poço,
Onde há um veio de diamantes à flor do chão
Diamantes que, para os ignorantes, são apenas pedras.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

(sem título)

Tenho o coração na boca:
Por isso a dor -
E o silêncio.