sábado, 28 de novembro de 2009

"RETALHOS" (Blankets)




Ontem eu mandei uma carta para o desenhista americano Craig Thomspon, gentilmente traduzida para o inglês pela minha amiga Aline Rabelo. Nela, eu peço para ele me enviar um desenho autografado por ele de seu "Retalhos" (Blankets) uma caudalosa história em quadrinhos - mais de 500 páginas! O autor esteve em Belo Horizonte em setembro, onde foi a estrela do FIQ - Festival Internacional de Quadrinhos, em sua sexta edição na cidade. Eu conhecera a obra de Thompson ao baixar "Blankets" no E-mule, completamente por acaso, em uma versão para o espanhol. Estava procurando aleatoriamente histórias em quadrinhos e me deparei com esta bela história. Tempos depois, também por acaso, fui ao cinema assistir "De Profundis", de Miguelanxo Prado (também quadrinista) e esperando pela sessão das cinco, entrei na livraria e comecei a folhear uns livros, apenas para passar o tempo. Qual não foi a minha supresa quando, ao olhar para uma estante, dei de cara com o livro. Não pensei duas vezes antes de sacar o cartão do bolso e gastar R$45,00 (caro!) na bela edição da Companhia das Letras, um calhamaço que quase não coube na minha bolsa. Fui andando para casa depois do filme, estava uma bela tarde de domingo, de clima agradável, não estava fazendo o calor que nos açoitara a semana toda. Durante a caminhada, fui lendo e me tornando amigo de Craig e de seu irmão Phil, conhecendo a história dele desde a infância na interiorana Marathon, uma cidadezinha nos cafundós do estado de Wisconsin. Craig nos conta de sua rígida educação numa família cristã, do árduo trabalho no campo, das bricadeiras e do relacionamento com o irmão mais novo - em uma casa "velha e com problemas de ventilação e de aquecimento", os dois tinham que dividir a mesma cama. O que o fazia se distanciar da dura realidade, do abuso sexual do baby-sitter (isso mesmo: o babá dos meninos era um homem), das humilhações na escola, do frio excessivo no inverno e do calor escaldante do verão, da brutalidade do pai, era se refugiar na fantasia, nos sonhos e nos desenhos, talento que Craig desde cedo relevou.
Mais o que mais me encanta na história de "Retalhos" é a narrativa da mais sublime e traumática experiência pela qual todos nós passamos: o primeiro amor. Numa colônia de férias da igreja Batista, Craig conhece Raina, uma garota "rebelde", impulsiva, cheia de personalidade, mas absolutamente encantadora, autêntica e linda, dessas pelas quais não é difícil se apaixonar. Essa experiência irá moldar para sempre a sua vida.



"Retalhos" (2003)
THOMPSON, Craig
Título original: "Blankets"
Edicão em português da Companhia das Letras
Tradução por Érico Assis
23 x 15,8 cm 1ª Edição - 2009
preço médio: R$49,00

(ainda sem título)

Essa cidade imensa
Ficou pequena
Para minha dor
Quando me pus a caminho
Para voltar para o meu deserto
Por ruas onde há mais sofrimento e desespero
Do que o que eu sinto por dentro
E me envergonho de chorar sem motivo
Quando me comparo com o mendigo
Sem pão e sem amor
Enquanto eu sigo para o meu castelo.

Vejo os que não tem destino
Vagando para o ermo
Quem sabe procurando tanto quanto eu
Eu que pensei que já tinha me encontrado.
Vejo o que não tem o que comer
E se veste com trapos
Que mal podem esconder a fome e o frio
Enquanto eu choro a minha arrogância de não ter
Um tesouro
Envergonho-me de protestar por causa disso
Enquanto há tantos que já nem podem falar
E pedir abrigo.

SEGUNDO SOBRE O CACTO

Ao contrário do que se pensa
os espinhos é que têm flores.

A OUTRA LEITURA DE NARCISO

Eu me apaixonei pela minha imagem vista por ti
desde a primeira vez em que me vi e não era eu mesmo
quase não me reconheci ao olhar-me no espelho:
eu era o olhar de um outro ser.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

QUANDO VOCÊ VOLTAR

Volte para mim
Mas não para hoje:
Volte para o começo
Antes de nos vermos

Volte o tempo
Os passos para trás
Para repetir do mesmo jeito
o que nós dois fizemos

Volte a dizer seu nome
porque eu não me lembro direito

volte para não dizer o que não deveria ser dito
para antes do erro
para o primeiro momento

Volte a não ser
a não ficar
para eu desejar
de novo conhecer
a estranha
que acaba de chegar.

PRIMEIRO SOBRE O CACTO

Encontrando no agreste um cacto
terei água para a sede.
Arrancarei os espinhos
Delicadamente.

O CORREDOR

Caminho contra o concreto
Mas é amargo o gosto do chão
Não corro porque o ar me empurra
De volta ao começo
Esbarro em desencontro
Perco o rumo quando cruzo o erro
Às voltas em torno de mim mesmo

(IMEDI)ATO

Sem querer você sabe
mesmo sem saber
O que há sobre mim
mesmo sem me ver a tanto tempo
tudo é imediato:
assim que sinto
vai um vento
e te diz.

ARMISTÍCIO

Eu me faço de difícil
Apenas para dizer que eu estou disponível
O tempo todo para você
Se eu proponho me render
É que estou disposto a conquistar você
E me comprometer de vez em teus desígnios
O meu pretexto é uma armadilha
Para que você
Que pensa ter o domínio da situação
Caia em contradição
Se eu proponho um jogo
É para perder
E poder negociar uma rendição:
Eu só aceito me entregar com uma condição
Que você me leve contigo.

O MAR EM VÃO

Envelheceram as horas de espera:
Deu-se o cansaço da esperança, por fim
Os que ficaram olhando o mar
Tentando ver o navio
Que os iria levar
Voltaram para o abismo
Já não era sem tempo desistir
A falta promessa de um messias
Dom Sebastião que viria nos buscar
Era apenas uma fantasia.

DIAMANTINA

Boa parte do pouco que consegui
graças a tudo o que pus a perder
é muito menos que te entrego
Esse tesouro que te ofereço como dote
É produto do tempo que passei colhendo, embaixo do fundo do poço,
Onde há um veio de diamantes à flor do chão
Diamantes que, para os ignorantes, são apenas pedras.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

(sem título)

Tenho o coração na boca:
Por isso a dor -
E o silêncio.

domingo, 30 de agosto de 2009

AMOR NÃO CORRESPONDIDO

Do blog da portuguesa Ana Oliveira



sexta-feira, 28 de agosto de 2009

UM HOMEM LIVRE

Acostumei a ver esse muro na minha frente. Nem percebia mais que havia um portão e já tinha esquecido que um dia ele seria aberto pra mim. Do meu crime eu não vou falar nessa história, só digo que foi coisa de dez anos que fiquei preso. Eu não sabia escrever antes de entrar nessa prisão. Quem me ensinou foi o Professor, que até ano passado cumpria pena por homicídio, matou a mulher e o amante dela a tiros. Na rebelião, foi a vez de ele levar um tiro, esse de um polícia. Lembro que sempre o filho mais novo dele (o único que ainda vinha visitar o pai) trazia um livro. Ele lia pros colegas de cela. Era engraçado ver aqueles homens rudes, uns condenados por tráfico, uns por assalto à mão armada, uns por homicídio,ficarem encantados com aquelas histórias maravilhosas que o Professor contava. A minha preferida era a do Zadig, de um tal de Voltaire, contando sobre um princípe persa que viveu altas aventuras; tinha outra muito legal que era a daqueles hobbits (acho que é assim que escreve), uma história de um anel mágico que fazia muito poderoso quem o possuísse; aqueles caras, que nunca haviam tido na vida um momento de fantasia, vibravam com as histórias que o Professor trazia, tinha até torcida pelos personagens. Uma vez, o Rubão, que pegou uns anos por causa de um carregamento de maconha, teve que disfarçar as lágrimas, quando soube que Romeu e Julieta tinham morrido; "Eu matava esse padre burro, desgraçado, que idéia mais sem noção" disse ele, quando o Professor contou que a idéia de dar um remédio pra Julieta parecer como morta foi do Frei Lourenço; não adiantava dizer que era uma estratégia bolada pelo padre pra que Romeu pudesse resgatar a amada e fugir com ela: Rubão batia as mãos na mesinha, irado, xingando de tudo que era palavrão o nome do santo homem; era bacana ver aqueles caras rindo que nem crianças (acho que eles se tornavam as crianças que nunca haviam sido) quando o Professor narrava as peripécias de Dom Quixote e do fiel escudeiro Sancho Pança. O Chico do Canivete e o Malaquias até fizeram um teatro com a história; no dia da apresentação, veio o Diretor da Penitenciária pra assistir; deu até na televisão, que um grupo de presidiários estava montando uma peça baseada em Dom Quixote de La Mancha; a biblioteca do Professor serviu de cenário e a Dulcinéia era o Manuel, vestido de mulher (todos sabiam que ele era gay e que tinha umas histórias esquisitas com o Rubão). Ano passado o presídio foi de novo reportagem na televisão, mas dessa vez não era ficção. A rebelião que matou o nosso querido Professor (morreu tentando defender a biblioteca) também levou o Rubão, o Malaquias, o Manuel, o Chico do Canivete, os dois primeiros de tiro e os outros, juntos com mais cinqüenta, no incêndio do pavilhão três, o nosso. Eu escapei todo chamuscado, tive que sair pra ir pro hospital de queimados, voltei pra cela dois meses depois.Como só faltava seis meses pra acabar minha pena, fiquei quietinho lá dentro, me comportei; cuidei da biblioteca do Professor e ainda recebia a visita do filho dele, que continuava trazendo livros; essa semana, minha última na cadeia, ele trouxe o livro daquele cara que atravessou a remo o Oceano Atlântico, o tal de Klink; diz ele na dedicatória que é pra eu "ganhar o mundo, enfrentando as ondas do mar bravio"; o rapaz como que me adotou como pai, depois da morte do Professor. Hoje estou saindo, e o rapaz disse que eu podia passar uns dias na casa dele, que a esposa não se importaria, que sabia que o sogro gostava muito de mim, que era eu o melhor amigo dele.
Estou indo embora daqui: ficar preso claro que não é bom, e ser ex-presidiário deve ser pior ainda, os outros vão te olhar com aquela cara de espanto, ninguém vai te dar emprego, você só vai arrumar mulher se for na zona. Mas eu guardo boa lembrança desse lugar: vou lembrar sempre do Professor contando a história das Mil e uma Noites prum bando de caras sentados no chão do pátio do banho de sol, eles com os olhos brilhantes e sonhando com as suas princesas, com suas Sherazades que haviam ficado lá fora, do outro lado do muro da cadeia; vou lembrar sempre do dia que eu consegui pela primeira vez escrever alguma coisa, e que o Professor bateu palmas e riu alto; o guarda achou que ele tava ficando doido. "Nada não, seu guarda, é que esse menino finalmente está deixando de ser burro", disse ele. O guarda deu de ombros, olhou pra mim com uma expressão neutra e continuou a ronda pelas celas. Eu a partir daí me entusiasmei e até me inscrevi naquele programa que alguém escreve para um prisioneiro e ele responde. Foi assim que eu conheci a Rosalva; ela me escrevia todo mês, dizia que se apaixonara por mim,e que também lera os "Cem Sonetos de Amor", do Pablo Neruda; ela disse que adorou os poemas (horríveis) que eu escrevi pra ela, e respondeu com uma cartinha perfumada. Os caras da minha cela cairam de gozação em cima de mim, me chamavam de Don Juan (a história do sedutor era contada pelo professor). Perdi a conta das vezes que sonhei com ela, tinha um retrato 3x4 colado no espelhinho ao lado do meu catre; Rosalva era morena, e só de imaginar seu corpo, que eu não via, me dava alguma coisa que eu não sentia desde que eu ainda estava na rua e tinha as minhas mulheres. Da última vez que eu escrevi pra ela, eu contei que já estava pra sair, mas até hoje ela não respondeu, não sei porque. Só sei que todo dia eu enchia o saco do guarda do pavilhão três, que era e ainda é meu amigo; Getúlio, esse o nome do guarda, era o que distribuía as cartas pros presos.
Aliás, é ele que tá me chamando agora. Ele está com uma chave na mão, uma expressão zombeteira na cara, como se dissesse "Aí, seu trouxa, vai pra rua, encarar a realidade". Mas ele me dá um aperto de mão, um tapinha nas costas e me diz: "Acho que cê vai querer voltar pra cadeia quando ver como é que tá lá fora. Vai com Deus, cara".
O portão pesado se abre. Um passo e eu deixo dez anos na minha vida. Dez anos encarcerado, vendo "o sol nascer quadrado" como se diz na linguagem de malandragem. Um vira-lata fuça um monte de lixo na calçada; os carros passam deixando a fuligem do escapamento; as prostitutas se espalham, os botecos estão cheios de desocupados; uma viatura passeia por ali, dois ou três mal-encarados dentro, fazendo ronda; eu indeciso com meus primeiros passos livres em dez anos, não sei pra onde ir, não lembro mais o ônibus que vai pro meu bairro, parece que os números mudaram. Entro num bar, peço uma bebida (Getúlio, escondido, me deu uma nota de cinquenta),bebo e sinto como se nunca tivesse saboreado um belo copo de cerveja na vida. Estou livre, e não sei o que fazer. Acho que vou passear no parque, ver as mulheres, sentar num banco de praça e ficar ali só olhando, pensando na vida. Quando começa a anoitecer, vou pros lados da zona, mas o que sobrou da nota de cinquenta não paga um programa nem com a prostituta mais barata do lugar. Resolvo então procurar o caminho da casa de minha mãe, se é que ela vai querer me ver; durante esses dez anos, dá pra contar nos dedos quantas vezes ela foi me visitar - acho que ela tinha mais era vergonha de ter um filho na cadeia. No fundo, no fundo, como toda mãe, ela me amava. Pergunto daqui e dali, e descubro o número do ônibus; a rua de casa não mudou muito: ainda tem o sacolão, o boteco, e agora tem uma tal de "lan-house" onde era a Pentescostal; minha mãe sempre tentava me levar pro culto, mas quando eu ia era pra ficar zoando os hinos, botando palavrão nas letras dos cânticos de Louvor. No dia que eu fiz aquilo (não vou contar o que é), minha mãe estava no culto e foram buscar ela pra me ver na delegacia. Imagino a vergonha que ela deve ter passado, coitada, entrando no carro da polícia, no meio do povo, e o pastor dizendo pra ela que em nome de Jesus o filho seria inocentado.
Toco a campainha. Uma senhora de óculos, encurvada pela idade, andando com dificuldade, vem atender, olhando desconfiada para este homem estranho à porta; quando ela percebe que sou eu, ela me olha, enchendo os olhos de água e diz só isso: "meu filho, entra.
Tá frio aí fora".

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O SOFÁ (VERSÃO DE TEREZA, MULHER DE JÚLIO)

Tem razão: esse sofá é meio cafona mesmo. Hoje mais cedo, reparando bem nele, notei que está puído e encardido, de tanto o Chiquinho deixar cair chocolate nele. Lavar não adianta mais. O moço que eu chamei várias vezes já disse: "Dona, não tem mais jeito, não. O jeito é comprar um novo". Mas eu olho pra esse sofá e me lembro do dia que a gente foi morar junto. Lembro de você e o Pedro carregando ele escada acima no nosso primeiro apartamento; lembro que você dormiu nele aquele dia que a gente brigou a primeira vez, mas tarde da noite eu senti a sua falta na cama e vim pra sala. Eu me deitei do seu lado, você me abraçou, balbuciou alguma coisa incompreensível e voltou a dormir. Lembro de você brincando de aviãozinho com o nosso filho, você deitava no sofá e levantava o menino lá no alto, imitando o barulho do motor; a gargalhada dele dava gosto de ouvir. A gente era feliz, ou eu pensava que a gente era, Júlio. Feliz até você esquecer um papel no bolso da calça, tinha "Clara" e um número de celular escrito nele. Você tentou explicar, se complicou, e no fim teve que dizer que estava com ela já um tempo, aí que eu entendi aqueles estranhos "serões" no escritório. Me sinto meio culpada por isso, de uns tempos pra cá eu ando meio "caída", meio descuidada, já não tenho mais aquele "fogo" que eu tinha quando a gente se conheceu. Se não fosse por mim, Júlio, você não tinha tomado coragem aquele dia da calourada, até hoje estaria me olhando com aquele olhar de cachorrinho abandonado, que era até bonitinho, sabe? Além disso, essas brigas da gente já estão no limite, você tem toda razão de ficar chateado comigo, eu arranjo qualquer pretexto pra te tirar do sério, eu tenho feito de tudo pra te atazanar. Agora que você resolveu de vez pular fora, eu não tiro a sua razão. Nenhum homem gosta de mulher que fica de marcação cerrada em cima, com ciúme até dos amigos; "você está me sufocando", você diz sempre; "você não acredita quando eu falo a verdade", dói admitir, mas você tem razão. Agora que eu sei que você não está mentindo, que essa tal de Clara existe mesmo, que não é só miragem da minha imaginação ciumenta, eu estou morta de medo, nunca senti isso antes, nunca pensei que pudesse te perder, ainda mais depois de tantos anos de casados. Chorei o dia todo hoje, nem banho eu tomei, tentei dormir à tarde, e já liguei pra faculdade avisando que não vou dar aula à noite. O Chiquinho está na casa daquele amigo dele, só chega mais tarde, eles dois estão fazendo um trabalho de história, eu acho; papai vai levar ele pro sítio amanhã e só volta depois do feriado, terça-feira; pode deixar, eu converso com ele, explico direitinho, apesar de que eu é que não estou entendendo nada. Não estou precisando de dinheiro, não. Também não estou preocupada com as contas, obrigado por se lembrar delas por mim. Minha cabeça não tem espaço pra essas coisas. Tudo o que me aflige, o que me desorienta, o que me faz avançar o sinal, é essa história de eu te perder, de você ir embora, de me trocar, sua mulher a vinte anos, por uma garotinha que você pôs pra trabalhar no seu escritório, uma "vigaristazinha qualquer" que vai tomar o meu lugar na sua cama, que vai comprar outro sofá com você. Até aquela viagem que você tinha planejado pra gente, você vai com ela; aquele anel que eu te mostrei, lembra? Pois é, o que eu fiquei sabendo é que você vai comprar um mais bonito ainda pra sua amante...ai, que palavra horrível, Júlio! Parece que a sua mulher virou uma coisa sem valor, um traste inútil, que quando já não presta mais pra nada você vai lá e compra uma novinha, sem defeito, que não está gasta pelo tempo. Não quero conhecer ela, não...vê-la só vai piorar a minha situação, Júlio; eu vou me comparar a ela, vou ver por quem e porque você está me trocando. Com certeza ela é bem mais nova que eu, e está atrás de um homem bem de vida que nem você. Quando é que você a conheceu, mesmo? Foi naquele dia que você fez as entrevistas com os novos estagiários ou naquela festa na casa do professor Alfredo? Agora não importa mais, Júlio. Não precisa mais explicar nada, eu vou tentar entender, vou tentar continuar viva depois dessa. Não, que drama que nada! Eu nunca passei por isso, eu nunca te perdi, não sei como reagir, não tenho força pra isso. Já está ficando tarde, está frio lá fora; você quer aquela blusa azul da faculdade emprestada? Depois você manda o motoboy da firma me devolver lá no meu trabalho. Você não mudou nada, Júlio: continua falando que não sente frio, depois quando fica gripado, eu é que tenho que dar uma de enfermeira...ah, é...nem isso eu posso ser mais. Pede pra essa Clara cuidar bem de você, ser carinhosa que nem eu sou... Diz que você gosta de doce de abóbora com coco...eu sei fazer, aposto que ela não sabe nem fritar um ovo...vocês vão ter empregada? Hoje a Dona Iolanda não veio, o marido dela está doente, falei que ela pode ficar com ele no feriado. Não, ele está internado ainda. Ela vai te agradecer...mês passado ela até me perguntou sobre isso, se você não podia adiantar mesmo o pagamento dela, ela mostrou a receita, absurdo mesmo o preço dos remédios, ela morre de vergonha de te pedir alguma coisa... "Sei lá, o Seu Júlio pode querer me mandar embora", Quê isso, Dona Iolanda! A senhora está com a gente a tanto tempo! A senhora é que nem a avó do Chiquinho! Falando em empregada, vou fazer um cafezinho pra gente, quer? (Fica mais um pouco). A chave do Corsa? Tá ali, ó. Na mesinha, do lado do nosso retrato. Vou lá ver o café.
"Tereza, sua imbecil! Você vai deixar ele ir fácil desse jeito? O que essazinha tem que eu não tenho? Tá certo que ela é mais novinha, mas eu sei do que esse cara gosta, eu entendo ele, eu tolero os piores defeitos dele...até aquela mania de colecionar carrinhos, o que muita mulher deve achar infantil...aqueles fios brancos no cabelo deixam ele tão charmoso, aquelas rugas que já começaram a aparecer no canto dos olhos, meu Júlio é um homem tão bonito quanto no dia em que veio a primeira vez, tão novinho , tão bobinho, me perguntar qual era a diferença entre "injúria" e "difamação". Pra dizer a verdade, eu é que quis ele, eu é que tomei a iniciativa, e o coitado, tão inexperiente, tão tímido, tadinho; com certeza, a cantada fajuta na calourada foi o Pedro que ensinou pra ele...mas deu tão certo que até hoje, ou melhor, até agora, o resultado estava ao meu lado! Não vou deixar ele me ver chorando, e vou tentar disfarçar que estou tremendo que nem vara verde...vou lá pra sala, vou ser forte ao menos por enquanto. Só quando eu ouvir o barulho da chave trancando a porta do lado de fora, o elevador descendo, o motor do carro ligado e o portão fechando é que vou me desfazer em lágrimas, cair no chão que nem uma criança e vou acordar amanhã deitada no sofá, com uma olheira desse tamanho, uma dor dilacerante no peito e um vazio imenso no coração...
Vou lá pra sala... quer ver como você é forte, Dona Tereza?

Hã? Como? Como assim não vai mais? Como assim desistiu? Verdade, Júlio? Você ainda me ama? E a Clara? Sério? Vai falar com ela? Tem certeza? Meu Deus, meu Deus!Meu marido me ama!Desculpa Júlio, desculpa, meu amor, tudo que eu falei era mentira, você não é nada daquilo que eu falei! Tive tanto medo, meu amor! Não ia conseguir viver sem você!Me perdoa, pelo amor de Deus, eu te amo. Não vou brigar mais com você, nunca mais. Ai, estou tão cansada, estou exausta, Júlio. Chorei o dia todo, sabia? Nem tomei banho, você quer a sua mulher assim mesmo, cheirando mal, nem lavei o cabelo, vai ver que nem escovei os dentes...Ai, Júlio, você não mudou nada, mesmo...

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O SOFÁ



Vou deixar aqui aquele sofá horrível que você quis comprar, achava que combinava com a cor das paredes. Eu não gostei, mas pra te agradar - eu sempre fazia isso - pus no meu crediário. Naquela época, o salário de um funcionário público metido a estudante de direito só dava pra isso mesmo: pra pagar a faculdade e os carnês. Nós nos amávamos tanto que nem isso era problema. Mas a gente foi morar junto, veio o Francisco, você teve que trancar e seu pai cortou sua mesada. Foi difícil convencê-lo a vir visitar o neto, mas você sabe como são os avós: o velho se encantou no ato pelo garoto. Por isso, acho que ele não vai pensar duas vezes em levá-lo pro sítio esse fim de semana e no feriado, assim o menino não vai sofrer tanto quando o pai dele for embora de casa. Depois você explica pra ele porque que papai teve que se mudar. Você sabe que a gente sempre escondeu do menino as nossas brigas, evitava falar alto perto dele. Mas eu acho que o Chico percebia quando algo não estava bem. Lembra quando a professora dele ligou pra dizer que o garoto estava chorando no banheiro da escola? Pois é: ele sabe de tudo, mas é tão inteligente que lida com isso sozinho, finge que não está nem aí, que fica na dele. O Chico é tímido que nem o pai, com quatorze anos ainda não está paquerando as meninas do colégio. Eu tinha vinte e cinco quando te conheci, no terceiro período, quando você estava dando monitoria de Direito Penal. Ficamos uns dois semestres naquele chove-não-molha, até o Pedro (sempre o Pedro) te chamar para aquela fatídica calourada. "Ah, vem você também, Júlio", disse ele. Fui a contragosto, detestava festas, ainda mais calouradas, aqueles cabeludos bêbados e drogados esgoelando aqueles rocks horríveis, mas eu estava "decidido" a de umas vez por todas abrir o jogo, pra te ganhar ou perder sem engano, que nem na música da Marina. Pois é, nove meses depois, a barriguda mais linda do mundo deu à luz um garotinho loirinho e bochechudo que batizei com o nome do meu avô materno. Vivemos no aperto uns dois anos, até eu me formar. Graças ao professor Alfredo, aliás o Desembargador Alfredo Ramos Nunes, rapidamente eu consegui arranjar um bom emprego e nome na carreira. O apartamento mudou, mudou de bairro, mudou o salário, mas o sofá dos tempos de faculdade ficou, lembra os tempos felizes, você sempre diz. Mas pra onde eu vou agora ele não vai. Porque você não vai junto. Clara até que perguntou se você não gostaria de conhecê-la, poderiam até ser amigas, não estamos virando inimigos só porque estamos nos separando, ela diz. Mas você não quer, eu aceito. Depositei o primeiro cheque da pensão do Chiquinho na sua conta, paguei a mensalidade do colégio, e se ele precisar do dinheiro pro intercâmbio diz pra ele que mês que vem eu vou abrir uma caderneta no banco. Não se preocupe com o carro; as multas e o IPVA já foram pagos, eu assumi aqueles pontos do dia que você passou o sinal, lembra? Então, acho que é isso. Tá aqui o endereço e o telefone do escritório novo, pode ser que Clara atenda, seja simpática com ela, tá? Um café? sim, eu aceito. Não, não tá fazendo frio. Pode deixar, eu tenho uma blusa no carro. Não se incomode comigo, não. A Dona Iolanda não veio hoje? E o marido dela, já saiu do hospital? Vou ver se adianto o salário dela, coitada...esses remédios, tão caros...Tudo bem, eu espero. Você viu as chaves do Corsa? Ah, sim, no lugar de sempre, ali, perto do "nosso" retrato. Você vai deixar ele ali? Vai na cozinha, parece que a água do café tá fervendo.
Enquanto espera, Júlio, para procurar as chaves do carro, olha a mesinha no canto da sala. O homem do "nosso" retrato beija e abraça uma moça linda, com uma beca de formanda. O ano é 19...o homem do retrato é ele, a moça linda é esta que está disfarçando mal as lágrimas, e o tremor das mãos na xícara de café fumegante. Ela aparece na sala, e ele a olha. Tão linda quanto nos tempos da faculdade, tão atraente quanto quando os caras da outra turma passavam olhando para trás e fazendo "comentários", o que deixava Júlio furioso de ciúmes. "Não envelheceu tanto quanto eu", Júlio pensa, "não sentiu os efeitos do tempo". "Esses cabelos loiros, que nem os do nosso filho, os olhos de um azul indescritível, iguais aos do nosso filho; mesmo com essas olheiras profundas(deve ter chorado hoje o dia todo), mesmo não tendo se penteado, mesmo com essa camiseta surrada e essas calças de moleton, a minha mulher é linda, a minha mulher é desejável ainda, já me vi muitas vezes tendo ciúmes até dos alunos dela!" "Onde é que você está com a cabeça, seu idiota? A Clara não é tão linda assim, não me ama desse jeito, não sabe quase nada de mim, não passou os apertos que nós passamos juntos; ela nem reclama quando eu ronco, quando eu e deixo a toalha molhada em cima da cama, quando eu falo que vou ficar até mais tarde no escritório; será que está certo eu deixar a minha mulher de vinte anos por causa de uma aventura que nem sei se vai dar certo, será que vale a pena apostar tudo, largar tudo por uma estranha qualquer?" "Não! Ainda dá tempo... posso ligar pra Clara, explicar tudo pra ela. Vou dizer a ela que não vou mais largar a minha esposa, que não vou mais pro Caribe, que aquele anel de diamantes vai ficar lá mesmo no Shopping. Vou falar pra ela continuar trabalhando lá na firma, se quiser. Se não, eu arranjo outro emprego pra ela com meus amigos lá do Tribunal. Se ela vai entender, é outra história. Amanhã mesmo, vou ligar pro meu sogro e falo pra ele trazer o Chiquinho pra casa antes do feriado. Digo pro Chiquinho que vou comprar aquele PlayStation que ele tanto quer, que ele volta". "Agora, será que se eu estender a mão, olhar pra minha mulher como costumava olhar quando eu ainda não namorava com ela, aquele olhar de cão vadio, será que se eu pedir perdão, dizer pra ela que eu ainda a amo, que essa tal de Clara é uma aventura inconseqüente, coisa de 'idade do lobo', ela vai me abraçar chorando, e em meio às lágrimas, vai me pedir perdão, e dizer que ainda me ama, que aqueles adjetivos impublicáveis eram só coisa de mulher ofendida, terrificada pela ameaça de perder o único homem que amara para uma "vigaristazinha qualquer"'? "Vem cá, minha amada, minha amiga, me perdoa, eu desisti de ir embora, eu não vou mais brigar com você, nunca mais, eu te amo, você me ama também, né? Então, deixa isso prá lá, vamos esquecer tudo, eu ligo depois pra Clara e explico tudo. Não chora, não... Olha aqui, vamos viajar, eu tiro umas férias, estou mesmo precisando, deixo o escritório com o Rogério, ele cuida daquilo lá pra nós. Não, não vamos levar o Francisco, não. Só eu e você, que tal? Senta aqui. Puxa, como esse sofá durou, hem? Me dá um beijo.
Apague a luz. Me abraça. Eu te amo".

(dois anos depois)

Cena: Um homem de quarenta e poucos anos, de óculos, um pouco calvo, está sentado num sofá, lendo o jornal. Ao seu lado, uma mulher loira de olhos azuis, com seus mais ou menos quarenta também, lê "Crime e Castigo" de Dostoiévski, enquanto embala um bebezinho no colo. Um rapaz de mãos dadas com uma garota morena entra e diz:

- Pai, mãe, essa é a minha namorada, a Clara.

UM ANO DEPOIS

Ontem (2o de agosto) fez um ano que fui a Faculdade de Letras pela última vez. Quem acompanha o Menino sabe o quanto eu gostava desse lugar. Sabe que lá eu fiz vários amigos, que vivi os melhores dias da minha vida; sabe dos apertos que enfrentei lá, das alegrias e tristezas que tive; sabe que eu amei e aprendi, que eu ajudei e recebi ajuda; que eu fui homenageado e execrado, que venci e que às vezes me rendi sem ter lutado. No dia em que voltei para rever tudo, um fato trágico aconteceu: o João Luciano, cadeirante, matou-se dentro de uma sala de aula, supostamente motivado pela paixão por uma professora do curso de alemão, uma de suas musas loiras. A "obcessão" pelas moças de pele clara era pública e notória no caso do João. Mas tirando essa "bizarrice", ele era um cara extraordinário, extremamente inteligente e sensível, apesar de algumas idéias um tanto quanto radicais; sentado naquele cadeira, havia um ser humano como qualquer um de nós, com todos os defeitos, mas com algumas qualidades que só ele tinha, o que o tornavam o que ele verdadeiramente era, sem a pecha do preconceito e da imbecilidade com que algumas pessoas se referiam a ele, justamente por não conhecê-lo direito. Um dos "universiotários" presentes à fatídica noite de 20 de agosto, na confusão em que se tornou o corredor, com o pessoal do SAMU, a polícia e os jornalistas, saiu-se com a seguinte pérola: "Se ele não morrer, o máximo que vai acontecer é ele ficar paralítico". Deu vontade de xingar o infeliz, mas eu fiquei calado. Não valia a pena discutir com o idiota.
Aquele dia não foi só esse episódio trágico, não. Revi várias pessoas queridas, fui celebrado e festejado por muitos, coloquei em dia várias "fofocas", matei a saudade de (quase) todo mundo. Gostaria de ter visto e de ter falado com uma certa pessoa, que não vi e com quem não falei.
Tudo isso fez um ano. Não sei se se repetirá. Não sei se as pessoas ainda estão lá.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

A LÍNGUA DE NERUDA E CERVANTES

Ser funcionário público às vezes é bom. A estrutura da administração municipal oferece alguns benefícios e oportunidades, mas é preciso estar atento para não perder a chance. No meu e-mail corporativo apareceu a mensagem: "Curso de línguas estrangeiras na Secretaria Municipal Adjunta de Recursos Humanos. Inscrições de 5 a 10 de agosto." Fui conferir lá no endereço que estava no e-mail e no mesmo dia fiz uma inscrição para o sorteio das vagas. Quase nunca tenho sorte com esse negócio de sorteio, mas dessa vez eu consegui: estou fazendo o curso de Espanhol, às segundas e quartas, no Centro. A aula é de seis e quarenta às sete e quarenta da noite, horário meio puxado, difícil não chegar atrasado com o trânsito caótico de Belo Horizonte; mas no final todo esse "sacrifício" vai valer pra eu ler Neruda e Cervantes no original. O livro, "Rápido, Rápido" (custa caro!) eu consegui emprestado com a Aline, grande amiga, que aliás se estiver lendo esse post vai saber o quanto eu sou grato a ela pela prontidão e boa vontade em me ajudar nesse caso. Daqui a um ano e meio, poderei ler o El País, o Clarin, ver filmes do Almodóvar sem legendas, cantar as músicas do Carlos Galhardo com sotaque portenho, vou poder assistir aos canais de TV a cabo da Espanha.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Morte de cão emociona alunos e funcionários da UFSC


Catatau, o ‘UFSCão’, foi encontrado morto por suspeita de envenenamento.
Mascote participava de manifestações a festas no campus.

Luciana RossettoDo G1, em São Paulo


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Catatau, o ‘UFSCão’, foi encontrado morto por suspeita de envenenamento. (Foto: www.flickr.com/rafaelvilela)

A morte de um cachorro causou uma grande comoção no campus da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis. Mascote querido de alunos e servidores, Catatau era famoso por acompanhar todos os eventos envolvendo os estudantes, mas foi encontrado morto, por suspeita de envenenamento, em um dos córregos que passam na área da universidade, na sexta-feira (24).


Rogeria D’el Rei Martins, que trabalha na área administrativa da UFSC, contou ao G1 que Catatau foi abandonado no campus em 1997, ainda filhote. Alimentado por alunos e funcionários, que contam com a ajuda de uma Ong que tenta impedir o abandono de animais no local, era considerado o cão mais popular da universidade e ganhou o apelido de “UFSCão”.

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Catatau participava de vários atos no campus da UFSC (Foto: www.flickr.com/rafaelvilela)

“Catatau sempre participou de todos os atos dos alunos, de protestos a festas. Ele estava nas formaturas, nos trotes, sempre junto com os estudantes. Na saída dos alunos, ele chegava até a acompanhar os estudantes nos arredores, mas depois voltava. Com esse jeito tão carinhoso, ele conquistou todo mundo”, conta Rogéria.


Uma das últimas proezas protagonizadas por Catatau ocorreu durante a invasão do gabinete da reitoria por alunos. O cão ocupou a cadeira do reitor durante o ato e tinha apoio dos alunos para permanecer no cargo.

O estudante de Design Gráfico Rafael Vilela conta que, em abril, Catatau acompanhou um protesto de alunos contra o aumento do passe de ônibus em Florianópolis. “Éramos uns 40 alunos e saímos em passeata do campus até o centro. Caminhamos por uns 40 minutos embaixo de chuva, e o Catatau foi junto. Ele fez parte da manifestação e depois conseguiu voltar para o campus de carona com alguns alunos que estavam de carro. Tem aluno que já levou o Catatau até para a praia”, disse.

Apesar da suspeita de assassinato, a morte de Catatau não poderá ser investigada. “Não temos câmeras no local onde ele foi encontrado, não teríamos como descobrir quem o jogou no córrego”, disse Rogéria.

Enterro

Catatau foi enterrado ainda na sexta-feira perto do monumento Pira da Resistência, que foi erguido pelos próprios servidores. Para Rogéria, o local vai se tornar um ponto de peregrinação de alunos. “Alguém já deixou um vaso com flores brancas para ele. Era um cachorro muito especial”, disse.


segunda-feira, 27 de julho de 2009

É VERDADE, ANA!

Sim, Ana o filme Alice no País das Maravilhas estréia em abril de 2o09!

sábado, 25 de julho de 2009

ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS (2)

Trailer teaser já está na Internet. Filme estréia no Brasil em abril (rimou!) de 2010.
Assista no Youtube:

sexta-feira, 24 de julho de 2009

FALHA NOSSA

Pessoas! Alguns links de filmes aqui no Menino não estão funcionando. Vou consertá-los aos poucos. Enquanto isso...

sábado, 18 de julho de 2009

PROVAVELMENTE AMOR

Em mim, algo se revolve
Como se fosse uma dor
Sem nome
Mas que me provoca a sensação de uma leveza enorme
Como se eu voasse
Não sei como se chama
A causa
Nem sequer sei se ela me conhece.

NARCISO INSEGURO

Se eu não sou eu,
Quem é este no espelho,
Espelho meu?

NÃO SE PREOCUPE, ESTOU BEM




Lili voltou das férias em Barcelona ansiosa para contar as novidades para seu irmão gêmeo Löic. Mas quando chega em casa, num distante mas agradável subúrbio parisiense, fica sabendo que Löic foi embora, depois de mais uma violenta discussão com o pai, com o qual nunca se dera bem. Lili, ao contrário, é muito ligada ao irmão, se desespera ao saber do seu desaparecimento, cai em depressão e se recusa a comer. Quando recebe uma carta do irmão, Lili decide ir procurá-lo, sem muitas pistas de onde ele possa estar. Lili só sabe que Löic caiu na estrada com seu violão e a cada dia escreve de um lugar diferente, sempre aproveitando a ocasião para declarar seu ódio ao pai, ao qual se refere com termos bastante "indelicados". Este "Não se Preocupe, Estou Bem" narra como uma "mentira caridosa" aquela que todos nós contamos para poupar um ente querido de uma decepção, de um sofrimento o qual julgamos que tal pessoa seja incapaz de suportar, traz conseqüências às vezes trágicas.

Não Se Preocupe, Estou Bem (Je Vais Bien, Ne T’en Fais Pas, França, 2006, 100 min) Direção e Roteiro: Philippe Lioret. Com Mélanie Laurent, Kad Merad, Isabelle Renauld. Baseado na obra de Olivier Adam.
Assista ao trailer:

sexta-feira, 17 de julho de 2009

GRANDE RESPONSABILIDADE

Patrícia McQuade escreve: "...então trate de escrever coisas bonitas porque sou exigente demais." E ela me chama de modesto. Bom, eu poderia dizer que me orgulho da minha modéstia (risos). Mas que ela não me ouça: não sei se o que escrevo é bonito. Apenas digo o que penso e sinto, minhas impressões sobre as coisas do mundo, minhas idéias (não vou tirar o acento dessa palavra tão cedo!). Se essas "mal traçadas linhas" têm alguma beleza, se tocam o sentimento de alguém, que bom. Ok, Sra. McQuade, tudo que eu escrever daqui em diante será para obedecer a sua "ordem" e às suas "exigências". Espero que você goste.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

COMEÇA A EXPECTATIVA






Alice no País das Maravilhas na versão de Tim Burton está em fase de pós-produção e chega aos cinemas americanos em março de 2010. Johnny Depp é o Chapeleiro Maluco. A australiana Mia Wasikowska faz o papel de Alice. Michael Sheen, que foi Tony Blair no filme "A Rainha" é o Coelho Branco. Outros grandes astros que participam do elenco são Chistopher Lee (lembram dele? É o Saruman de O Senhor dos Anéis) que faz o monstro Jabberwock e Stephen Fry, que é o gato de Cheschire.

O site Filmofilia (em inglês) traz fotos e mais detalhes da produção.


quarta-feira, 15 de julho de 2009

UM ACHADO, UM "ACONTECIMENTO"

Olha o que veio a mim por acaso: o blog "Acontecimentos" do poeta Antônio Cícero, que nos meios musicais é o irmão de Marina Lima, e é autor das melhores letras da cantora. Siga esse link:

terça-feira, 14 de julho de 2009

CAROS AMIGOS

Eu não sabia que deveria moderar os comentários às postagens do meu blog. Vou ver se consigo desativar essa função, porque tenho certeza de que todos os eventuais visitantes são gente boa. Portanto, não precisam de moderação: todos são bem vindos para comentar tudo o que eu escrevo. Por causa dessa minha "ignorância" de como funciona esse ambiente virtual, só agora fiquei sabendo que Patrícia McQuade, Thiago Assis e Aline Rabelo fizeram recentemente menções elogiosas ao meu modesto e mal traçado Menino Homem que - diga-se de passagem - estava (está) meio jogado de lado. A desculpa de sempre é o "tempo", a correria da vida, que nos impede de parar para observar alguma sutileza, que nos priva da capacidade de se surpreender e de se emocionar com o mundo, preocupados que ficamos em "viver". Não tenho andado muito "inspirado" ultimamente, e todas as minhas tentativas de escrever não deram em nada. O incentivo que faltava vem na forma da maneira carinhosa e generosa com que essas pessoas (não deixarei de citar você, Paulinha) se referem a mim nos seus comentários. Como o mais impiedoso crítico do meu próprio trabalho, nunca acho que ele tem tanto valor artístico. Preciso da abalizada avaliação de pessoas sensíveis e inteligentes como essas que citei para que eu veja qualidades na minha "produção poética". Certa vez eu escrevi assim a uma pessoa querida: "Fico muito feliz de saber que você gosta do que eu escrevo, e por acreditar que outras pessoas também possam gostar; só isso, como já disse, já é mais do que eu poderia esperar, tendo em vista que eu pensava escrever só para mim, falando do meu próprio mundo, das coisas de dentro, das minhas inquietações e sentimentos. Quando percebo que mais de uma pessoa pensa dentro do meu texto, que ele cabe em outros contextos, isso significa que o que sinto e penso toca o pensamento e o sentimento de outras pessoas. Acredito que este seja o maior reconhecimento buscado por todos aqueles que escrevem: ser a voz que fala ao coração de outras pessoas". A ela e a todos eu prometo que vou procurar onde deixei a minha inspiração. Deve estar na mesma gaveta onde eu guardei os planos, as promessas, os projetos, os rascunhos, as paixões da minha vida. O espaço da minha mesa está cheio de processos administrativos, autos de infração, planilhas e relatórios, de fatos da vida cotidiana e perecível. Durante todo o dia eu convivo com as mais diversas maneiras dos motoristas dessa cidade de criar problemas e arranjar transtornos. O trânsito é realmente um caos, as pessoas estão cada vez perdidas e mais agressivas na metrópole. Vence quem sobrevive, quem está protegido dentro das suas carcaças metálicas brilhantes. Por tratar o tempo todo com isso, temo estar ficando meio que anestesiado, não me indignando, não esboçando mais qualquer reação, ficando indiferente, tratando pessoas como números de processo ou dados estatísticos. A salvação é que eu tenho as palavras e através delas eu posso expressar isto, externar a minha angústia, compartilhá-la com pessoas como vocês, que ainda não endureceram o coração.

(SEM TÍTULO)

Coisas minhas que não sei onde estão
Não estão perdidas
Se não as tenho agora comigo
É que meu coração
também não está aqui.

ALGO JÁ ANTIGO

Hoje me lembro de antes
eu era isso
Fui o que sou no tempo
em que vivo
Não é de agora que me sinto
como se jamais tivesse visto
o que nunca esqueci.

sábado, 13 de junho de 2009

DE TUDO RESTA UM POUCO

(uma coisa assim meio Drummond)

Um pouco de tudo permaneceu intacto:
A parte não consumida pelo silêncio
que contaminou de morte o resto das palavras
O que não foi perdido por não ter existido
não vem mais ao caso
já que só interessava o risco
E nem era mais segredo naquele instante em que foi revelado
E estava já vencido ao se render

O maior perigo era se arrepender
de jamais ter dito.

DIA DOS NAMORADOS

Empresário atira na ex e se mata em Mogi Mirim (SP)

do jornal "Agora" (São Paulo)

Uma policial militar foi assassinada a tiros pelo ex-namorado, que cometeu suicídio logo depois.

O crime aconteceu ontem pela manhã, no Dia dos Namorados, em Mogi Mirim (151 km de SP). Segundo a polícia, o empresário Nilton Gross, 40 anos, e a policial militar Adriana Gomes, de 35, haviam tido um longo namoro, mas ele era casado e Adriana terminou o relacionamento neste ano.

A polícia não soube dizer se ele ainda é casado. Ontem, por volta das 9h, o empresário foi ao prédio onde morava a policial militar para tentar uma reconciliação.

Diante da recusa dela em reatar o romance, ele pegou um revólver calibre 38 --possivelmente a arma da policial-- e deu dois tiros na ex, que foi atingida na cabeça e no coração. No mesmo local, ele foi encontrado morto.

A polícia ainda aguarda o resultado da necropsia, mas as investigações indicam que ele ingeriu veneno. O enterro de Adriana estava previsto para acontecer na manhã de hoje. O corpo de Gross será transferido para o Paraná.

JÉSSIKA TORREZAN

domingo, 24 de maio de 2009

A CADEIA

Para que tenhas o que é teu
Para que pertenças ao espaço que eu tentei invadir
Eu me esquivo de ti
Embora continue a vigiar
noite e dia

Te dou o silêncio que você pediu
Pois desde o início eu não ouvi
A queixa gentil contra o meu afeto

Se meu abraço te impede de se livrar de mim
Se sufocada estás pelo meu excesso de zelo
Eu te deixo sair
Fugindo de ti
como um leão acuado
e com medo.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

MAÍSA E OS MONSTROS



A expressão tensa da menina no palco parecia indicar que algo não estava bem. Primeiro, ela se soltou bruscamente da mão do apresentador e se afastou dele, lívida e trêmula; logo depois, de olhos arregalados, ela viu aparecer no estúdio a rídicula figura de outra criança, fantasiada toscamente como um "monstro". Certo, o tal monstro não assustaria quase ninguém. Mas no caso da garota de seis anos chamada Maísa, atualmente a principal "atração" do programa dominical de Sílvio Santos, foi o bastante para que ela entrasse em pânico, e fugisse aos berros do estúdio. A platéia veio abaixo com as gargalhadas, como se aquilo fosse um show de palhaços. O apresentador chamava a menina em vão, pedindo que ela voltasse. Ela voltou, mas pouco depois, incitada pelo apresentador, que ameaçava trazer o "monstrinho" de volta, ela deixou o estúdio para não voltar mais. Sílvio Santos repetia: "essa Maísa não tem jeito mesmo...". Ora, trata-se de uma criança de seis anos. Por mais que ela pareça "espontânea" e "extrovertida" ela não deveria ser exposta a ridicularização pública a que é submetida toda tarde de domingo. Por mais que suas respostas às provocações do apresentador pareçam "inteligentes", ela não tem o discernimento e capacidade de julgamento necessários; é uma criança, e como reza o ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente - , deve ser preservada de situações constrangedoras e vexatórias, ou de ser exposta ao ridículo. O apresentador a provoca até o limite da sua paciência, para que ela, na sua inocência, faça o público cair na risada. Algumas pessoas com quem conversei sobre o assunto justificam a participação de Maísa no programa pela quantidade de dinheiro que ela deve receber pela atração, pelo "sucesso" que ela representa, pelos pontos de audiência que deve roubar das emissoras concorrentes. Ora, ela talvez não tenha consciência disso tudo, nem a noção do quanto "vale" no mercado televisivo - ela já foi "disputada" por outros canais. Maísa sequer pode usufruir legalmente de todo o dinheiro que tem. A administração dos ganhos dela deve estar nas mãos de alguém contratado pelos pais.
Num mercado como a televisão, em que toda novidade é perecível, não há de durar muito para que passe o "efeito Maísa" e ela caia no esquecimento, sendo substituída por outra bizarrice dessa natureza. No momento em que ela não gerar mais audiência (e lucros), quando o público não tiver mais interesse, quando se esgotarem todas as surradas piadas do apresentador para fazer a garotinha ficar nervosa, brava e sair correndo chorando, aí então é só colocar outra coisa no ar.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

CINCO FRAÇÕES DE UMA QUASE HISTÓRIA


(Cinco Frações de uma Quase História, Brasil, 2008, 96 min. Direção dos episódios por Armando Mendz, Cristiano Abud, Cris Azzi, Guilherme Fiúza, Lucas Gontijo e Thales Bahia. Com Cláudio Jaborandy, Cynthia Falabella ,Gero Camilo,Jece Valadão,Leonardo Medeiros,Luiz Arthur,Murilo Grossi,Nivaldo Pedrosa. Disponível em DVD)

Você está cercado de malucos. Isso mesmo. Todos nessa cidade tem alguma coisa de loucura, em menor ou maior grau. São dois milhões e quatrocentas mil pessoas - sem contar as que vem de fora - vivendo a dor e a delícia da metrópole, negociando permanentemente com o caos, contra o tempo, buscando incessantemente um produto caro e difícil de se encontrar no mercado: a felicidade. Uma mercadoria que pode vir embalada de diversas formas. Bem perto, no carro ao lado, no assento do ônibus atrás de você, na fila do banco, no supermercado da esquina, há pessoas de todos os tipos, e você nem imagina do que elas são capazes. No meio de toda essa gente, vamos encontrar nesse "Cinco Frações de Uma Quase História" cinco tipos estranhos, cinco pessoas esquisitas, cinco histórias de vida que, no paroxismo de suas atitudes, no auge das suas paranóias e neuroses são muitos parecidos com todos nós. São animais urbanos. Pode ser alguém como um fotógrafo obcecado pelos pés femininos e os persegue pelas ruas, pode ser também um sujeito que se projeta nas imagens que vê na televisão, pode ser um reles funcionário de repartição que vê na proposta indecorosa do chefe uma chance de sair da vida mesquinha e medíocre que leva; pode ser uma secretária desiludida no amor que sonha em se casar, nem que seja na marra. Ou ainda pode ser um empregado de matadouro que pensa em se vingar da traição da mulher. São cinco seres humanos. O filme foi todo rodado em locações em Belo Horizonte, que aqui aparece nobre e discreta, como um pano de fundo para as histórias narradas, que em algum ponto se cruzam, sem contudo se tocar. Como acontece quando passamos por um estranho na rua. Por um instante ele pode até chamar sua atenção por causa de alguma atitude inusitada, mas logo depois segue levando a vida e você nunca mais o vê.
Assista ao trailer e leia mais sobre "Cinco Frações" no ótimo site oficial: www.cincofracoes.com.br/

segunda-feira, 27 de abril de 2009

CARTA PARA O FUTURO

Quando isso chegar a seu conhecimento
Já terá acontecido como passado
Vai ficar o relato guardado contigo para o tempo
como a história que lida num livro
volta a ser

Isto é o dia de hoje
dias e dias depois, e é o
Conto do instante em que está sendo
para você saber
que, quando ler o que está escrito,
ainda será assim do mesmo jeito.

APRENDER A CAIR

Caio leve
como neve
para cobrir com um manto branco
o chão
Mas é
Para matar de frio e
Para virar avalanche
Que desabo suave do céu.

A chuva para encher o rio
e virar inundação
Não precisa ser tempestade:

Pode cair de mansinho.

ILHA DE SANTA HELENA *

Trabalha para o dia já perdido
Um pouco de sangue para o fim do tempo
Vai buscar o sustento dos sonhos já desfeitos
Nas intermináveis filas
Perca-se mais uma esperança, de todas as que já foram perdidas
A batalha mais importante da guerra:
Vencida.



*Napoleão Bonaparte morreu exilado na Ilha de Santa Helena.

domingo, 26 de abril de 2009

TONGUE TIED

TONGUE TIED (República Tcheca, 2004, 4min30s. Direção por Emily Sheskin. Com Ivo Hrbac, Marina Vradiy, Lenka Novotna)

sexta-feira, 24 de abril de 2009

ÍMPETO AFOITO

É a angústia que me controla os atos
E a inquietação quem me guia pelo caminho torto
Em buscar aflito o que me acalmaria
é a solidão que insiste em ter companhia para a noite
Mas do que nos serve a calmaria quando
desesperada pelo mar
Navega contra o vento
Do que vale a onda que se atira na pedra
Se morre na praia a maré cheia?

CONVERSA DE MULHERES

Alguém me contou que te viu
hoje de tarde
Disseram que você estava brava
e se referiu a mim com nomes feios
Depois, às gargalhadas
Falou mal de todas as bobagens masculinas
E disse que eu era um dos piores da sua vida.
Esse alguém não soube, porém,
que na escuridão do seu quarto
Junto com a raiva que você sentia
vieram as lágrimas.

terça-feira, 21 de abril de 2009

METADE DE DOIS

Meu amor é um ser inválido:
Tem apenas dois pés e dois braços

Amores comuns
Costumam ter quatro.

REMÉDIOS DO AMOR

REMÉDIOS DO AMOR (Brasil, 2002, 19 min. Direção por João Vargas Penna. Com Andrea Caruso, Bruno Murtinho, João Faleiro, Luciana Brites, Paulo André, Rodrigo Signoretti. Música por Marco Antônio Guimarães. Filmado no Edifício Niemeyer, Praça da Liberdade, em Belo Horizonte e em Ouro Preto)
ASSISTA no Porta Curtas (www.portacurtas.com.br)

Remédios do Amor

A ÍNTEGRA DO ROTEIRO

(Adaptado do "Sermão do Mandato" [1643] do Padre Antônio Vieira, [1608-1697])REMÉDIOS DO AMOR
CORO
(off)
Diz que é de amor, e de amor nosso, e de amor incurável: de amor: de amor nosso: e de amor incurável, e sem remédio:
VIEIRA
(off)
Tudo conquista o amor, quando conquista uma alma; porém o pri-meiro rendido é o entendimento. Usar de razão, e amar, são duas coisas que não se ajuntam.
CORO
(off)
Diz que é de amor, e de amor nosso, e de amor incurável: de amor; de amor nosso;e de amor incurável, e sem remédio
VIEIRA
(continua em off)
O amor deixará de variar, se for firme, mas não deixará de tres-variar, se for amor.
VIEIRA
(em off)
São afeições como as vidas, que não há mais certo sinal de have-rem de durar pouco, que terem durado muito;
VIEIRA
(continua, off)
São como as linhas, que partem do centro para a circunferência, que quanto mais continuadas, tanto menos unidas.
VIEIRA
(off)
De todos os instrumentos com que o armou a natureza, o desarma o tempo. Afrouxa-lhe o arco, com que já não tira;
VIEIRA
(off)
embota-lhe as setas, com que já não fere; abre-lhe os olhos, com que vê o que não via; e faz-lhe crescer as asas, com que voa e foge.
VIEIRA
(off)
Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba.
VIEIRA
(off)
Atreve-se o tempo a colunas de mármore, quanto mais a corações de cera?
VIEIRA
(off)
Por isso os Antigos sabiamente pintaram o amor menino; porque não há amor tão robusto que chegue a ser velho.
VIEIRA
(off)
O segundo remédio do amor é a ausência. Muitas enfermidades se curam só com a mudança do ar; o amor com a da terra.
VIEIRA
(off)
É o amor como a Lua, que em havendo Terra em meio, dai-o por eclipsado.
VIEIRA
(off)
E que terra há que não seja a terra do esquecimento, se vos passastes a outra terra? Se os mortos são tão esquecidos, havendo tão pouca terra entre eles e os vivos; que podem esperar e que se pode esperar dos ausentes?
VIEIRA
(off)
Se quatro palmos de terra causam tais efeitos; tantas léguas que farão? Em os longes passando de tiro de seta, não chegam lá as forças do amor.
VIEIRA
(off)
Os olhos são as frestas do coração, por onde respira; e daqui vem, que o coração na presença, em que tem abertos os olhos, por eles evapora e exala os afetos;
VIEIRA
(continua, off)
porém na ausência, em que os tem tapados pela distância, que lhe sucede? Assim como o vaso sobre o fogo, que tapado e não tendo por onde respirar, concebe maior calor, e o reconcentra todo em si e talvez rebenta,
VIEIRA
(continua, off)
assim o coração ausente, faltando-lhe a respiração da vista, e não tendo por onde dar saída ao incêndio,(continua)
VIEIRA
(continua, off)
recolhe dentro em si toda a força e ímpeto do amor, o qual cresce naturalmente, e se acende e adelgaça de sorte, (continua)
VIEIRA
(continua, off)
que não cabendo no mesmo coração, rebenta em maiores e mais extraordinários efeitos.
VIEIRA
(em off)
A natureza e a arte curam contrários com contrários. Sendo pois a ingratidão o maior contrário do amor, quem duvida que este ter-ceiro remédio seria também o último e o mais presente e eficaz…?
VIEIRA
(em off)
A virtude que lhe dá tamanha eficácia, se eu bem o considero, é ter este remédio da sua parte a razão.
VIEIRA
(em off)
Diminuir o amor o tempo, esfriar o amor a ausência, é sem-razão de que todos se queixam; mas que a ingratidão mude o amor e o con-verta em aborrecimento, a mesma razão o aprova, o persuade, e pa-rece que o manda.
VIEIRA
(em off)
Que sentença mais justa, que privar do amor a um ingrato? O tempo é natureza, a ausência pode ser força, a ingratidão sempre é delito.
VIEIRA
(em off)
O tempo tira ao amor a novidade, a ausência tira-lhe a comunica-ção, a ingratidão tira-lhe o motivo.
VIEIRA
(em off)
E ferido o amor no cérebro, e ferido no coração, como pode viver?
VIEIRA
(em off)
É pois o quarto e último remédio do amor, e com o qual ninguém deixou de sarar, o melhorar do objeto. Dizem que um amor com outro se paga, e mais certo é, que um amor com outro se apaga.
VIEIRA
(em off)
Assim como dois contrários em grau intenso não podem estar juntos em um sujeito;
VIEIRA
(continua, em off)
assim no mesmo coração não podem caber dois amores; porque o amor que não é intenso, não é amor.
VIEIRA
(continua, em off)
Daqui vem, que se acaso se encontram e pleiteiam sobre o lugar, sempre fica a vitória pelo melhor objeto.
VIEIRA
(continua, em off)
É o amor entre os afetos, como a luz entre as qualidades.
(off)
Diz que é de amor, e de amor nosso, e de amor incurável: de amor; de amor nosso;e de amor incurável; e sem remédio…
(…continua, em off)
Comumente se diz, que o maior contrário da luz são as trevas, e não é assim (continua…)
VIEIRA
(…continua, em off)
O maior contrário de uma luz, é outra luz maior.
VIEIRA
(continua, em off)
As estrelas no meio das trevas luzem, e resplandecem mais; mas em aparecendo o Sol, que é luz maior, desaparecem as estrelas.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

HISTORINHAS CURTAS (2)

Aqui de novo flagrantes da vida alheia. Pequenos cotidianos, iguais aos de muita gente que eu conheço, parecidos com os dias que já vivi e vivo. Só as histórias é que falam de pessoas imaginárias, criadas -eu já falei sobre isso antes - pela imaginação de um autor ou de um roteirista. Mas as histórias poderiam ser de qualquer um de nós. Afinal, todos nós já vivemos a descoberta do primeiro amor, assim como da primeira desilusão amorosa; todos nós temos histórias alegres, divertidas e cômicas sobre a juventude, e um ou outro caso escabroso para esconder. Coisas do tipo fumar no corredor morrendo de medo de papai ou mamãe descobrir. Também eu e você já passamos pela aventura do primeiro emprego, do primeiro divórcio, do primeiro pedido de demissão. Esses curtas falam de descobertas, de redescobrimentos, de reviravoltas na vida necessárias para começar de novo, falam de ritos de passagem, da dura jornada a fase adulta da nossa existência, quando deixamos de ser para nos tornarmos, quando temos que deixar muita coisa de lado para formarmos a personalidade que vamos passar a ter.

ESPALHADAS PELO AR (Brasil, 2007.15 min.Dirigido por Vera Egito. Com Ana Carolina Lima, Estevan Santos, Renata Torralba Horta
ESPALHADAS PELO AR

ENGANO
(Brasil, 2008, 11 min. Direção por Cavi Borges. Com Felipe Mônaco, Miila Derze

ENGANO

PERTO DE QUALQUER LUGAR (Brasil, 2007, 17 min. Direção por Mariana Bastos Com Caroline Abras (Gabi), Rafael Losso (Tom), Renata Gaspar (Julia), Victor Ribeiro (Rafa)

PERTO DE QUALQUER LUGAR

MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE UM EDITOR DE PASSOS
(Brasil, 2006, 16 min. Direção por Daniel Turini. Com Eduardo Gomes, Fernando Sato, Rita Batata, Vinícius Piedade)

MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE UM EDITOR DE PASSOS

quinta-feira, 9 de abril de 2009

EARLY MORNIN'

Uma luz acesa, outra apagada
A cidade semi desperta
Meio (des)acordada

Ainda sonham os notívagos
Perambulam sonâmbulos
Os que trabalham já se levantaram
para a crua realidade da luz do dia.

quinta-feira, 2 de abril de 2009


Achei mais uma adaptação para o cinema do conto "Noites Brancas" de Dostoiévski. Desta vez, trata-se de "Belye Nochi" (em círilico, белые ночи), dirigido por Ivan Pyryev com a atriz Lyudmila Marchenko no papel de Nástenka, Oleg Strizhenov interpretando o Sonhador sem nome e Anatoli Fedorinov fazendo o Inquilino. Essa versão do clássico de Dostoiévski segue à risca o texto original, ambientando a história de Nastenka e o Sonhador em São Petersburgo e na época histórica do conto dostoievskiano. Mas o diretor se permite "viajar" um pouco na imaginação dos protagonistas: quando o Sonhador fala dos seus sonhos e delírios, as imagens (de uma adorável singeleza) mostram-no nas situações em que ele se projeta; da mesma forma, quando Nastenka pensa em se "casar com um príncipe chinês" temos realmente as imagens de seus devaneios. Em "Belye Nochi" o Sonhador, já velho e decrépito, habitando uma espelunca suja e enfumaçada, relembra aquelas quatro "noites brancas" em que conheceu a mulher da sua vida, que quatro dias depois viu desaparecer da sua visão para sempre nos braços do Outro Qualquer.

[sem título]

Diz que foi sem querer:
Mas já quis -
E me fez infeliz por vontade
E me fez mal sem maldade

A vilã de filme infantil
Magoa de um jeito gentil
Me engana de boa fé

ADORNO

Rosáceas nos cabelos
Volutas nos dedos
Mármore nos seios
Pedras raras nos olhos negros:
Castelo de desejo.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

NÃO SUMI

Escolho a data de hoje, 1º de abril, dia da mentira, para voltar a mexer no meu blog. Não é mentira que eu ando meio "preguiçoso" quando se trata de me manter em dia com a tarefa de postar minhas coisas aqui. Também não deixa de ser verdade que hoje em dia as coisas andam meio mornas, meio sem novidades. Não estou apaixonado por ninguém, não vi nenhum filme legal (embora tenha vários na "fila" pra ser assistidos), não li nada de interessante ultimamente. Minha vida tem sido o trabalho, que está tranqüilo, e as precupações de praxe. Quando criei esse "Menino Homem" a tempos atrás, eu esperava ter assunto pra todos os dias, achava que tinha que falar de tudo, mesmo quando não tivesse nada pra dizer. O tempo passou, passou também a empolgação da novidade. Falei em outro lugar aqui no blog que sempre acontece isso com quem se aventura a ter uma "faceta no ciberespaço". Acontece de tempos em tempos isso de a gente deixar o ciberespaço de lado para cuidar de coisas da Terra, para lidar com fatos concretos, agir off-line. É talvez o que esteja acontecendo atualmente. Mas hoje, justamente no dia em que nada que se diga pode ser levado a sério, é que eu volto à lida. Se for mentira, se amanhã mesmo eu sair de novo pra só voltar daqui a não sei quantos dias, a culpa não é minha...quer dizer, é sim.

sexta-feira, 13 de março de 2009

TRACEY THORN: "RAISE THE ROOF"

Tracey Thorn é da dupla britânica Everything But the Girl. O timbre delicado e doce da sua voz, as canções com levadas que às vezes lembram a nossa boa e velha bossa nova, as letras inspiradas, têm sido a minha trilha sonora ultimamente. Essa "Raise the Roof" encanta pela simplicidade do arranjo, pela batida eletrônica não tão "batida" como as músicas que são feitas hoje em dia e sobretudo por este vídeo, com sua singela historinha de amor. "Raise the Roof" é do trabalho solo de Tracey, "Out of the Woods", de 2007. Ouça.
Para mais coisas sobre Tracey, visite o site dela:

"Raise the Roof", o vídeo, foi dirigido por Eduard Grau e filmado em Bucareste, na Romênia.

terça-feira, 10 de março de 2009

NÃO DEVERIA SABER

Um tolo contaria
Para o inimigo
O segredo.
Eu disse a ela
Tudo o que eu sentia.

Terceiro sobre a leveza

No ar, a palavra mais simples
desenha a história
Que vou contar amanhã
Depois de descansar.

O JOGO DA MEMÓRIA

Colho fragmentos:
São cacos
Quando volto o tempo

No caminho
Ecos indistintos
E incompletos

Vaga impressão
De já ter visto
Pois faz tanto

Só que isto
Já não faz sentido.

PAS-DE-DEUX *

Daí a gente dança
Que nem gente grande
Eu de longe e você por aí
- a música de fundo sem harmonia -
Então fica assim:
a gente fica agora e ainda hoje se esquece
Você de tudo e eu de mim.

* no balé clássico, é a coreografia executada por um casal de bailarinos.

TODAS AS OUTRAS

Não fosses tu a melhor de todas
As mulheres verdadeiras
Dessas que por não serem perfeitas
São lindas
Daquelas em que erros e enganos têm razão de ser
Não fosses tu a mais estranha
das desconhecidas
Se fosses banalmente natural,
Se estivesses, como todas, atada à superfície
Se os sorrisos e os cosméticos
Ou as lágrimas
Mentissem por você
Certamente eu não te amaria.

ACONTECEU COMIGO

Veja o que está escrito:
é tudo o que eu disse desde o início
Gosto de contar e recontar
o que aconteceu comigo
Leia o que foi visto
Pense nisso
É o que eu diria se te visse
Gosto de pensar que tudo isso
Está no ar
Guarde os retratos, os recados
os registros
Se um dia qualquer
você se lembrar

domingo, 1 de março de 2009

RARE BOOKS AND MANUSCRIPTS

RARE BOOKS AND MANUSCRIPTS (Inglaterra, 2005, 12 min. Direção por Bruce Webb. Com Neve McIntosh, Alexander Giles e Ian Mosby)



Numa tranqüila biblioteca, a tímida Jess apaixona-se por um rapaz e, depois de conseguir "roubar" o número do cartão dele, começa a enviar para ele livros cujos títulos formam mensagens secretas. Mas Jess também anda recebendo livros de nomes estranhos, que também formam frases com sentido completo. E mais: se o seu muso tem uma namorada, que um dia vai buscá-lo na biblioteca, quem será o seu "admirador secreto"?

rare books and manuscripts

BEM NA FITA

Gente! Olha só a nota que saiu no "Hora da Reflexão", boletim quinzenal que é publicado na empresa onde trabalho. A matéria fala maravilhas sobre o meu modesto Menino Homem. Eis a íntegra da nota:

(abre aspas)

A internet oferece uma ampla variedade de recursos para promover relações interativas entre seus usuários, mas os blogs são uma ferramenta que tem ganhado grande popularidade atualmente e se tornaram uma verdadeira febre. Se você é um dos poucos seres não familiarizados com tema, o blog é uma espécie de diário digital onde o internauta pode publicar textos, imagens e músicas. Neles é possível ver de tudo: do antigo diário das adolescentes, antes trancado a chaves, até conteúdos específicos sobre temas acadêmicos, empresariais ou culturais; notícias do dia-a-dia; ou o que mais passar pela cabeça do blogueiro. Um blog que merece ser visitado é o Menino Homem, criado por nosso colega Olavo Duarte, da GPROM e que traz poesias (muitas delas de autoria do próprio Olavo), curiosidades, notas históricas, atualidades, crônicas, críticas, vídeos, charges e muitas dicas culturais. Também vale muito a pena ler as postagens mais antigas, onde você vai encontrar resenhas e críticas sobre filmes, animações e curtas escolhidos a dedo. Uma leitura muito agradável e bastante educativa. Não deixe de conferir.

(fecha aspas)

DUAS MINHAS

FALSO PUDOR

De tudo, só sei um pouco:
É o que me basta para querer
o que me falta
Do mundo, apenas a parte que me cabe
faz pretender o que resta
A fresta da porta entreaberta
permite-me adivinhar
um vulto envolto num véu de ar
que deixa o segredo à mostra:
uma jóia por trás de uma parede.



O ÁLIBI

Ela me deixava ao mesmo tempo desconcertado e comovido
O engraçado susto que era repentino
E o constante sobressalto de costume
O fato de já saber dos descompassos, de já adivinhar
No tempo quando ela ia chegar
Deixava-me tão aflito de esperar
Que nenhuma surpresa seria novidade
Pairava então a expectativa no ar
E por mais que eu tentasse disfarçar
Eu era o principal suspeito.

EU NÃO TE AMO

Tens razão: eu não te amo
Porque mal te conheço:
Só vi até agora a superfície do oceano
Não passei do toque suave da seda do vestido
É verdade sim que não te amo
Mas desejo aprender qual é o caminho
E quero saber o que há e está escondido
Conhecer o segredo tão protegido
dentro do espelho.
Sim, não te amo, não
Porque não fui ao abismo,
Talvez por medo,
Porque não desci ao inferno contigo
Para te dar a mão no desespero
Também não estivemos no céu porque
Estivemos parados olhando para o chão

Quando o teu sorriso seria o meu sol noite e dia,
Não te procurei pelos lugares aonde você ia.

Não te amo, porque não me confundi contigo
E também porque não me perdi no meio de tudo
Para te encontrar.

Talvez um dia eu te diga tudo isso.

CAIXA DE PASSADO

Presente no meu dia é o que já foi longe no tempo
Recorda-se de repente algo do passado
Voltam os relógios para o instante do começo
Torna a tocar desde o início a melodia.
E eu me sinto como se nascesse agora
Para a época em que eu não sabia que já estava vivo
Porque a voz que por dentro se calava
Não me havia dito.
Retorna a impressão inicial da novidade,
Repete-se a surpresa
O segredo deixa de ser revelado
Para ser redescoberto.