sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

"Que seja infinito enquanto dure"


por Adão Iturrusgarai
Fonte: Blog do Adão (adao.blog.uol.com.br)

Não Amarás será finalmente lançado em DVD


NÃO AMARÁS
(Krótki film o milosci/ Short Film About Love,Polônia, 1988, 86 min)
Direção: Krzysztof Kieslowski
Roteiro: Krzysztof Kieslowski, Krzysztof Piesiewicz
Elenco: Grazyna Szapolowska, Olaf (corresponde a Olavo em português)Lubaszenko, Stefania Iwinska, Piotr Machalica)
assista ao trailer de Não Amarás: http://www.kino.com/video/trailer_flash.php?product_id=&film_id=663



Enfim, depois de uma longa espera, os amantes do bom (do melhor)cinema já podem comemorar: a Platina Filmes (www.platinafilmes.com.br) já programou para março de 2008 o lançamento em DVD dos longas "Não Amarás" e "Não Matarás", do diretor polonês Krzysztof Kieslowski, derivados da série televisiva "Decálogo". Cada um dos dez curtas trata de um dos dez mandamentos. Desses dois que se transformaram em longas, eu queria destacar o "Não Amarás" como o mais belo filme a que já assisti na vida. Tomek, um rapaz de 19 anos munido de uma luneta passa as noites a observar a movimentada vida afetiva/sexual da sua vizinha, Magda (uma mulher madura), que mora defronte ao seu apartamento. Enquanto isso ele inventa pretextos para, por um segundo que seja, poder vê-la mais de perto. Com o tempo ele revela seu amor, mas ela o humilha e algo surpreendente acontece nesta relação. Linda a cena do leite derramado. Destaque para a belíssima trilha sonora de Zbigniew Preisner e para a fotografia de Witold Adamek , que com tons de cinza desde o mais escuro ao branco mais intenso realçam as nuances psicológicas do protagonista. É um filme sobre a impossibilidade do amor, do quanto ele pode ser terrível, assustador, inacessível, monstruoso. De que o amor, muitas vezes, rima com dor.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

É pra rir?

ADAO ITURRUSGARAI



fonte: adao.blog.uol.com.br

Meu momento atual:

Esta canção tem tudo a ver com meu momento atual: há coisas ainda não resolvidas, há pontas soltas para juntar, mas está tudo bem. Eu traduzi (mais ou menos) a letra original.

Assista Johnny Nash cantando "I Can See Clearly Now" no Youtube: www.youtube.com/watch?v=k3KwpJUrgN4

“I Can See Clearly Now”
(written and recorded by Johnny Nash)

I can see clearly now, the rain is gone,
I can see all obstacles in my way
Gone are the dark clouds that had me blind It’s gonna be a bright (bright), bright (bright)
Sun-Shiny day.

I think I can make it now, the pain is gone
All of the bad feelings have disappeared
Here is the rainbow I’ve been prayin?for
It’s gonna be a bright (bright),
bright (bright) Sun-Shiny day.

Look all around, there’s nothin but blue skies
Look straight ahead, nothin but blue skies

I can see clearly now, the rain is gone,
I can see all obstacles in my way
Gone are the dark clouds that had me blind
It’s gonna be a bright (bright), bright (bright)
Sun-Shiny day.

Tradução por Olavo Duarte

Agora eu vejo claramente: a tempestade se foi
Percebo todos os obstáculos no meu caminho
Nuvens negras que me cegavam foram embora
será um radiante dia de sol

Agora que a dor acabou acho que posso fazer
todos os maus sentimentos desaparecer
Eis aí o arco-íris pelo que orei
será um radiante dia de sol

Olhe pra tudo em sua volta: não há mais nada além do céu azul
Veja bem na sua frente: não há mais nada além do céu azul

Agora eu vejo claramente: a tempestade se foi
Percebo todos os obstáculos no meu caminho
Nuvens negras que me cegavam foram embora
será um radiante dia de sol

Jalal Ud-Din Rumi

Jalal Ud-Din Rumi (1207-1273)

Divan de Shams de Tabriz
tradução por José Jorge de Carvalho

[PROMESSA]

Noite passada fiz outra vez a promessa:
jurei por tua vida jamais desviar os olhos de tua face.

Se golpeares com a espada, não me esquivarei.
Não buscarei cura em mais ninguém,
pois a causa de minha dor é ver-me longe de ti.

Joga-me ao fogo;
se deixar escapar um único suspiro
não serei homem de verdade.

Surgi do teu caminho como pó.
Retorno agora ao pó do teu caminho.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Mais versos meus

(PARA A.R.)

CASUALIDADE

De qualquer momento em diante
Desde este seu de repente
Pudera fosse antes
Até o futuro que não sabemos quando
A partir do instante
Onde quisermos que o começo seja
Ficamos por dizer quando seremos
Neste caso ficamos onde estamos
E ainda não sabemos o que somos

RECADO A UMA ESTRANHA

Desde que chegaste,
Eu só te espero chegar
Sem saber de ti
Ao longo de horas por dia
Às vezes, como um raio fulgurante
Suponho ter te visto passar
À distância
Mas, com minha insistência
Quase te consigo tocar,

Percebe-se isso pela urgência
Com que horas e horas vêm se despedindo
E é tão claro como um clarão repentino
Contra um breu
E, depois, dorme outra vez.

MÚTUO ESTRANHAMENTO

Se você não sabe nada
Tudo bem
Eu também não sei direito
A gente pode, assim, se assustar
Duas vezes
Não te perguntei nenhuma coisa
Porque não duvidei
Quase todo segredo que eu guardei
Ou eu perdi
Eu te entreguei

EXPLICAÇÃO DA MINHA POESIA

E você ainda acha que eu não falo
No que penso quando escrevo?
São todas as coisas: o bom do dia, isso que ficou da tua palavra
Ou quase tudo que dissemos de passagem
Se o motivo não está claro, olhe-se no espelho
E, de súbito, a razão vai te ver sorrindo
Cerco-me de metáforas, ditos estranhos
Aludindo a outros segredos que não entrego
Mas o que me exalta, inspira e impele
É a única palavra que não digo.

Pablo Neruda; "Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada"

PABLO NERUDA
(Ricardo Neftáli Reyes, 1904 - 1973)

"Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada"

Poema 10

Temos perdido também este crepúsculo.
Ninguém nos viu esta tarde com as mãos unidas
enquanto a noite azul tangia sobre este mundo.
E tenho visto desde minha janela
uma festa do poente entre as serras distantes.
Às vezes como uma moeda
se ascendia um pedaço de sol entre minhas mãos.
Eu te recordava como a alma apreendida
dessa tristeza que tu me julgas.
Então, aonde se encontrava?
Entre estas gentes?
Falando que palavras?
Por que me chega todo este amor de um golpe
quando me sinto triste, e te sinto longe?
Caiu o livro que sempre se toma no crepúsculo,
e como um cão ferido tangeu aos pés minha capa.
Sempre, sempre te distancias entre as tardes
onde o crepúsculo corre maculando as estatuas.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Persepolis: o próximo filme que vou assistir


(Fonte: 31ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo)
Assista ao trailer (Fonte Youtube; legendas em inglês)





Teerã 1978: Marjane, de oito anos, sonha em ser uma profetisa do futuro, para assim salvar o mundo. Querida pelos pais cultos e modernos e adorada pela avó, ela acompanha avidamente os acontecimentos que conduziram à queda do xá e de seu regime brutal. A entrada da nova República Islâmica inaugura a era dos “Guardiões da Revolução”, que controlam como as pessoas devem agir e se vestir. Marjane, que agora deve usar véu, sonha em se transformar numa revolucionária. Pouco depois, a cidade é bombardeada durante a guerra contra o Iraque. Com as restrições impostas pelo conflito e o desaparecimento rotineiro de membros da família e entes queridos, a repressão torna-se cada dia mais severa. Como o ambiente fica a cada dia mais perigoso, a rebeldia de Marjane sugere um grave problema. Seus pais decidem mandá-la para a Áustria, para sua própria proteção. Em Viena, Marjane vive outras revoluções aos 14 anos: adolescência, liberdade e o peso do amor mas, além de toda a também excitação, vem também a sensação de exílio e solidão e o gosto amargo de estar à margem da sociedade. No elenco de dubladores, a atriz Chiara Mastroianni dá voz à Marjane criança e adolescente, enquanto que sua mãe na vida real, a veterana Catherine Deneuve, vocaliza a mãe de Marjane, Tadji.


ENTRA EM CARTAZ EM BELO HORIZONTE NO DIA 22 DE MARÇO.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Hino Nacional Brasileiro

No passado, era proibido tocar o Hino Nacional Brasileiro em arranjo diferente do original. Hoje em dia, não é mais. Graças a isso, agora podemos assistir a este belíssimo vídeo: o Hino Nacional tocado em diversor ritmos brasileiros, como o samba, o chorinho, o maracatu...emocionante.

HISTÓRIAS DE AMOR



O filófoso André Gorz, pseudônimo de Gerard Horst (discípulo de Jean-Paul Sartre), pensador político francês, co-fundador da revista Le Nouvel Observateur, foi encontrado morto em casa no dia 24 de setembro de 2006. Ao seu lado, jazia a sua esposa Dorine (Doreen Keir) e uma pilha de cartas para explicar o ato: suicídio. Dorine tinha uma grave e dolorosa doença degenerativa, originada pelo excesso do contraste utilizado nos raios-X durante uma cirurgia de coluna em 1965. Como não suportasse a idéia de viver sem seu grande amor, Gorz decidiu se matar, junto com a esposa: ambos tomaram uma injeção letal. Publico aqui a íntrega da reportagem de hoje do jornal "O Tempo", com mais detalhes dessa bela e trágica história de amor.


Ato de amor


Fenômeno de vendas na França e Alemanha, "Carta a D. - História de um Amor", fala sobre a relação do filósofo André Gorz e sua mulher, Dorine



RICARDO BALLARINE
ESPECIAL PARA O TEMPO


"Você está para fazer oitenta e dois anos. Encolheu seis centímetros, não pesa mais do que quarenta e cinco quilos e continua bela, graciosa e desejável. Já faz cinqüenta e oito anos que vivemos juntos, e eu amo você mais do que nunca. De novo, carrego no fundo do meu peito um vazio devorador que somente o calor do seu corpo contra o meu é capaz de preencher."

Impossível resistir e não utilizar esse trecho para falar de "Carta a D. - História de um Amor", o livro que o filósofo austríaco André Gorz escreveu para Dorine, sua mulher por quase 60 anos e que estava acometida por uma doença degenerativa chamada aracnoidite. O livro, lançado ano passado na França e Alemanha, tornou-se um fenômeno de vendas e abriu espaço em mais oito países. No Brasil, chega em co-edição da Cosac&Naify e Annablume, casa que publica as obras de Gorz, como "Metamorfoses do Trabalho" e "O Imaterial: Conhecimento, Valor e Capital". O volume tem tradução de Celso Azzan Jr., posfácio do sociólogo Josué Pereira da Silva e orelha escrita pela psicanalista Ecléa Bosi. O texto começa em 21 de março de 2006. Ele, com 84 anos, ela, com os 82 descritos na abertura do livro. O ato final está nas entrelinhas da carta, que irá revelar mais do que algo simplesmente premeditado, mas uma decisão conjunta e sensata dos dois. Pereira da Silva, no posfácio escrito em 26 de novembro de 2007, diz que a leitura deve deixar um "gosto semelhante" a quem ultrapassar as breves 71 páginas da carta. A homenagem a Dorine "foi um puro ato de amor". É esse "ato de amor" que perpassa a obra, que humaniza o autor e o leitor. Um filósofo que dedicou mais de 20 anos a cuidar da mulher, que redirecionou sua obra para debater questões que afetaram e provocaram a aracnoidite, um a doença provocada pelo líquido que gera o contraste em radiografias. O medicamento deveria ser eliminado pelo organismo, o que não aconteceu no caso de Dorine, que a partir de então conviveu com dores que a impediam de realizar movimentos até para se deitar. O lipiodol subiu para o cérebro e causou o mal, além de formar um cisto na região cervical. Dedicado ao estudo do marxismo, Gorz deu voz à esquerda libertária. Seu primeiro livro, "Le Traître", teve prefácio assinado por Jean-Paul Sartre, que iria acompanhar sua carreira até os eventos de Maio de 1968 na França, quando os dois romperam. A partir daí, Gorz começou uma nova fase do seu trabalho e abriu espaço para discutir ecopolítica, o biopoder de Michel Foucault e a crítica ecológica de Ivan Illitch. Gorz trabalhou também como jornalista no "L’Express" e ajudou a fundar o "Le Nouvel Observateur".

É esse estudioso que sentou para escrever a carta de amor, em que busca recuperar a trajetória do casal, de quando se conheceram, se apaixonaram e seguiram vida adentro. Eles se encontraram por acaso em 1947, na Suíça. Dois anos depois, foram viver juntos. Gorz, um judeu austríaco que fugira do nazismo, tentava escrever; Dorine, nascida na Inglaterra Doreen Leir, era uma atriz de teatro que cavava espaço. Rumaram a Paris, a cidade que atraía a intelectualidade na época. Dessa relação, surgiu o ponto forte do nó que os atava: Dorine se tornou fundamental no trabalho de Gorz, como ele pontua em diversas passagens. Essa relação não deixa de ter seus percalços, como em "Le Traître", em que ele diminui Dorine e chega a humilhá-la, ao chamá-la de "coitadinha". Ela que abandonara sua carreira para ajudar Gorz a escrever seu livro e construir sua obra. Em "Carta a D.", ele se redime e faz uma autocrítica, quase um pedido de perdão. É dos poucos momentos do livro em que Gorz usa a primeira pessoa do singular para se expressar. O livro todo é conduzido pela primeira pessoa do plural, como a dar corpo a uma entidade única descrita pelas palavras. O livro passa a explicar a relação do casal, como Dorine era fundamental para a escrita de Gorz. Ele confessa que não conseguiria escrever sem a mulher, ela que foi mais do que a incentivadora dedicada, mas o motivo de tudo. Como ele deixa claro num trecho em que Dorine se justifica por estar ao seu lado: "Amar um escritor é amar que ele escreva, dizia você. Então escreva!". Ao que ele devolve: "Eu não posso me imaginar escrevendo se você não mais existir". Ler a carta de Gorz provoca sensações do tipo "quem é essamulher?", "ela existe?", "como encontrar um amor desse?". Gorz enfrentou esse desafio e transformou uma carta de amor num monumento. Para Fernando Pessoa, "todas as cartas de amor são ridículas, não seriam cartas de amor se não fossem ridículas". Quando Gorz escreve "descobri, miraculosa coincidência do real com o imaginário, a Vênus de Milo tornada carne", leva às palavras uma lembrança da sensualidade e da sexualidade, expõe a relação mais íntima em exagerada comparação, que pode soar como tal, mas que para Gorz é a mais pura verdade. Pois, para fechar com Pessoa, "só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor é que são ridículas". Acompanhar a doença de Dorine e juntos buscar melhorias, seja no novo eixo de sua obra, seja na cozinha - Gorz aprendeu a cozinhar para oferecer à sua mulher uma alimentação mais saudável -, seja no ambiente onde moravam, uma casa cercada de árvores plantadas pelos dois, em Vosnon (França), esse foi o rumo que o filósofo escolheu. Os motivos estão expostos em "Carta a D.". "Você acabou de fazer oitenta e dois anos. Continua bela, graciosa e desejável. Faz cinqüenta e oito anos que vivemos juntos, e eu amo você mais do que nunca. Recentemente, eu me apaixonei por você mais uma vez, e sinto em mim, de novo, um vazio devorador, que só o seu corpo estreitado contra o meu pode preencher (...) Eu vigio a sua respiração, minha mão toca você. Nós desejaríamos não sobreviver um à morte do outro. Dissemo- nos para sempre, por impossível que seja, que, se tivéssemos uma segunda vida, iríamos querer passá-la juntos." Assim Gorz termina a carta, de forma semelhante à abertura. O ponto final foi dado em 6 de junho de 2006. Esta declaração de amor encerrou não somente o livro, mas também a trajetória do casal. Em 22 de setembro de 2007, Gorz e Dorine tomaram uma injeção letal e morreram em casa. Juntos.

AGENDA
"Carta a D. - História de Amor". De André Gorz. Annablume/Cosac&Naify, 80 pág., R$ 29


Publicado em: 23/02/2008

Pateta: Senhor Andante e Senhor Volante

(Goofy: Motormania, Mr. Walker and Mr. Wheeler, 1950).



sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Falso Testemunho

Digo "não" da boca pra fora
E escondo a verdade no coração.

SETE CIDADES







Clique na imagem para visualizar em tamanho maior.




SETE CIDADES, a linda canção de Renato Russo, lançada no álbum "Legião Urbana", de 1984, foi transformada em quadrinhos pelo ilustrador paulista Rogério Hanata.

Sete Cidades
(Renato Russo/Marcelo Bonfá/Dado Villa-Lobos)


Já me acostumei com a tua voz/Com teu rosto e teu olhar/ Me partiram em dois /E procuro agora o que é minha metade /Quando não estás aqui /Sinto falta de mim mesmo /E sinto falta do meu corpo junto ao teu/ Meu coração é tão tosco e tão pobre /Não sabe ainda os caminhos do mundo /Quando não estás aqui /Tenho medo de mim mesmo/ E sinto falta do teu corpo junto ao meu /Vem depressa pra mim/ Que eu não sei esperar /Já fizemos promessas demais /E já me acostumei com a tua voz /Quando estou contigo estou em paz /Quando não estás aqui /Meu espirito se perde/Voa Longe/longe...





O VENTO

Quando ela me tocou da primeira vez
De leve
Sequer percebi
Na verdade era só um olhar de longe
Que nem chegou a alterar
A ordem dos elementos.

Ela apenas passou como uma rajada de vento
Acariciando minhas vestes, causando um pequeno tremor
Ela soprou o suor da minha face
Sob o sol quente
E depois voou

Mas ela caminhou sobre as folhas secas
Contra o meu silêncio
Para fazer carinhos nos meus cabelos

Primeiro ela vasculhou cantos escuros do meu apartamento
As frestas das portas
Os vãos de janelas
Procurando o pó sobre os meus livros
Afastando as cortinas
Para fazer entrar
A luz do sol.

E, sem saber de onde vinha
Senti seu cheiro
Como se a primavera inteira
Viesse me visitar

Pela primeira vez
Uma gota de água sobre o solo seco
Como o primeiro sabor nos lábios de alguém faminto
Um rio repentino para quem morreu de sede.

Ela é o ar que se chama vento
Por carregar o pólen nos dedos
E cultivar o mundo inteiro

Ela é o ar que leva o nome de alento
Por me obrigar a respirar no abismo
Insuflar o peito e voar
Contra os rochedos

Ela me fez sonhar, como Ícaro,
Que ao homem é permitido ir ao sol e pousar

Meus gigantes de pedra
Monstros horrendos
Graças a ela tornaram-se apenas moinhos de vento.

DRUMMONDIANO

Ignoro, imagino
Tendo como certo e absoluto
O fato de não estar bem certo
Não sei, mas creio
E o que não conheço, suponho
Tudo o que tenho na minha vida são duas mãos
E um sonho.

São Paulo, seis milhões de veículos; Belo Horizonte: 1 milhão









Fonte: www.laerte.com.br

VOLTAIRE (François Marie-Arouet, 1694-1778)

ZADIG OU O DESTINO (UMA HISTÓRIA ORIENTAL)
Tradução por Mário Quintana (1906-1994)

O grande mago propõe primeiro a seguinte questão:
- Qual é, de tôdas as coisas do mundo, a mais longa e a mais curta, a mais rápida e a mais lenta, a mais divisível e a mais extensa, a mais negligenciada e a mais irreparávelmente lamentada, que devora tudo o que é pequeno e que vivifica tudo o que é grande?
Cabia a Itobad falar. Respondeu que um homem como êle nada entendia de enigmas e que lhe bastava ter batido os adversários a lançaços. Disseram uns que a chave do enigma era a fortuna, outros a terra, outros a luz. Zadig disse que era o tempo. "Nada é mais longo - acrescentou êle, - pois que é a medida da eternidade; nada é mais curto, pois que falta a todos os nossos projetos; nada mais lento para quem espera; nada mais rápido para quem desfruta a vida; estende-se, em grandeza, até o infinito; divide-se, até o infinito, em pequenez; todos os homens o negligenciam, todos lhe lamentam a perda; nada se faz sem êle, faz esquecer tudo o que é indigno da posteridade, e imortaliza as grandes coisas". A assembléia deu razão a Zadig.
Perguntaram em seguida: "Qual é a coisa que se recebe sem agradecer, que se desfruta sem saber como, que damos aos outros quando não sabemos onde é que estamos, e que perdemos sem o perceber?"
Cada qual deu a sua explicação. Apenas Zadig adivinhou que se tratava da vida.

PEANUTS Charles M. Schulz (1922-2000)

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Não por Acaso: destinos que se cruzam nas ruas de São Paulo




Assista ao trailer

Não por acaso , Brasil, 2007 - 90 min
Direção:Philippe Barcinski Roteiro:Philippe Barcinski, Fabiana Werneck Barcinski e Eugênio Puppo Elenco: Leonardo Medeiros, Rodrigo Santoro, Letícia Sabatella, Rita Batata, Branca Messina, Cássia Kiss e Graziella Moretto. Disponível em DVD.



DESTINOS CRUZADOS

Nossa vida está condicionada aos nossos deslocamentos pelo espaço. Para satisfazer nossas necessidades de consumo, lazer, saúde, para trabalhar e ir ao encontro das pessoas queridas, precisamos nos deslocar. O que necessitamos está sempre lá adiante, nunca os nossos desejos estão onde estamos. E por isso precisamos buscar, partir, procurar; assim, o trânsito urbano é parte da qualidade da nossa vida. A fluidez do tráfego é diretamente relacionada ao sucesso de nossas buscas e expectativas. Ir e voltar, procurar outro caminho, eleger outro destino dependem necessariamente de encontrar a estrada livre e aberta adiante. O congestionamento atrasa o futuro. Por isso, o papel das pessoas que organizam, controlam e coordenam, não raro anonimamente, o trânsito de nossas cidades, é tão importante, fundamental para que a metrópole ande para frente.



Não se têm notícia de que alguma vez o cinema tenha retratado um desses personagens anônimos que, detrás de um terminal de computador, com os olhos fixos em telas de câmeras de monitoramento de tráfego, ajudam a cidade a se deslocar, os carros a obedecer os fluxos dos semáforos, e os nós a serem desfeitos. “Não por Acaso”, filme de 2006 dirigido por Phillipe Barcinski e com Leonardo Medeiros no papel de Ênio, engenheiro de trânsito da CET, Companhia de Engenharia de Trânsito de São Paulo, mosta a rotina dentro de uma sala de controle de trânsito. Diante dos monitores, os técnicos se revezam dia e noite para administrar o emaranhado de semáforos de uma cidade gigantesca como São Paulo, "a cidade que não pára". Embora registre todos os dias centenas de quilômetros de congestionamentos. O filme de Barcinski, que conta no elenco também com Rodrigo Santoro, Graziella Moretto, Letícia Sabatella, Branca Messina, Cássia Kiss e a estreante Rita Batata, vai além do puro registro das particularidades desse tipo de atividade, para se imiscuir na vida pessoal do protagonista. Depois de fracassar no casamento, Ênio se vê diante de outro drama: um acidente de trânsito. Justamente a situação que seu trabalho cotidiano busca evitar a todo custo. É a fatalidade, o imponderável, que nenhum sistema, nenhuma máquina, nenhuma tecnologia consegue prever. O acidente, paradoxalmente, coloca Enio diante das escolhas que nunca quis fazer na vida, que em sua rotina meticulosa jamais precisou confrontar. Por exemplo, saber que tem uma filha (Bia, papel de Rita Batata) da qual precisa agora cuidar. Como diz o website do filme (www.naoporacaso.com.br) “manejar a emoção desse encontro será mais difícil que controlar o trânsito de São Paulo”. Em paralelo e simultaneamente, acompanhamos a história de Pedro, vivido por Rodrigo Santoro, que herdou do pai o ofício de fabricante de mesas de bilhar. Tal como Ênio, Pedro acha que pode controlar a vida como se fosse um jogo, que pode vencer o adversário aplicando sempre os mesmos lances, que o risco de qualquer jogada pode ser calculado, que a tacada perfeita pode ser reproduzida indefinidamente. O mesmo acidente de trânsito, o mesmo imprevisto que muda a vida de Ênio vem mudar o rumo e as escolhas de Pedro. Um filme para mostrar que o trânsito não é só feito de automóveis: há pessoas dentro dos veículos, há histórias de vida que se entrecruzam continuamente, há paradas e atrasos indesejados nas rotinas, nas buscas e aventuras humanas das quais uma cidade é construída. E também há finais abruptos, perdas inexplicáveis, seqüelas que duram toda a vida. Quando um semáforo abre, aquele que fica na outra rua se fecha. Enquanto um fluxo se estanca, aquele que o cruza flui. Tal como a vida.

Cada verso meu será... (poemas autorais)

(à fonte minha inspiração)


ANOS-LUZ

Olavo Duarte

Às vezes leva dias pra eu te ver:
Porque há anos-luz no teu olhar.

(primavera de 2006)

Um pouco de Neruda

Pablo Neruda
(Ricardo Neftáli Reyes, 1904-1973)


Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço onde a claridade está presa.
há que sentar-se na beira do poço da sombra
e pescar a luz caída
com paciência.

(dos "Últimos Poemas")

Aurora Borealis


Hoje de manhã eu fiquei encantado com a linda imagem que eu vi no jornal. É uma imagem rara de uma aurora boreal, fenômeno luminoso criado a partir do impacto de partículas elétricas transportadas pelo vento solar no campo magnético terrestre, As auroras boreais costumam colorir os céus do pólo norte da Terra de incríveis tons verdes, amarelos ou violetas. O fotógrafo britânico Mark Humpage, especialista em fotos de fenômenos climáticos, conseguiu registrar essas imagens ao ficar seis dias sob temperaturas abaixo dos -20°C na região de Karasjok, no Círculo Polar Ártico.
Fonte: Jornal "O Tempo"

Menino Homem

Olá. Seja bem vindo ao meu blog. Visite.
Olá, pessoal. Esta é a versão virtual do meu mundo. Tenho um bocado de coisas interessantes (e outras nem tanto) para mostrar pra vocês. Na era virtual, é quase uma imposição que você tenha uma (pelo menos uma) página na World Wide Web. E assunto tem pra todo tipo de gosto. Eu também queria ter um cantinho na rede. Pra eu botar na minha estantezinha virtual uma coleção dos meus interesses, uma caixinha dos meus rascunhos, uma prateleira com os meus livros, discos e meus filmes preferidos para, quem sabe, um visitante ocasional chegar, dar uma espiada e ficar para bater um papo, rir de coisas engraçadas e entabular conversação "séria" sobre assuntos "profundos". Não faça cerimônia: entre sem bater, a qualquer hora do dia ou da noite. Também não se acanhe em dar palpites e fazer colaborações, desde que dentro do espiríto deste blog, que não concordará em publicar idéias e opiniões que signifiquem preconceitos ou lugares comuns. Haverá espaço para o (bom) humor, para as grandes mentes pensantes da humanidade, para aqueles que tornaram, cada um a seu modo, o mundo mais interessante. Quero falar dos grandes livros, dos filmes que me emocionaram, dos poemas que eu sei de cor, das pessoas que eu conheci na vida; vou querer discutir as notícias que li, vou ,mostrar as imagens que vi, aquelas que as minhas retinas guardaram; sobretudo, quero abrir o coração, dizer o que eu sinto e penso sobre as coisas deste mundo. Seja bem vindo.