11 MINUTOS.
O painel eletrônico avisa: daqui a 11 minutos, o ônibus vai
chegar. O novo sistema foi implantado pela companhia que gerencia os ônibus da
cidade a pouco mais de um ano. No começo, muita gente desconfiou, achando que
era mais uma "enganação do
governo", que não dava pra prever ou adivinhar quando o "busão"
no trânsito "caótico" da metrópole chegaria ao ponto. Mas, como tudo
na vida, o povo se acostumou, aprendeu como funciona e passou até a gostar. Então,
agora a noite deve estar faltando MESMO onze minutos pro ônibus chegar e
levá-la pra casa. 11 minutos. Agora nem isso, porque caiu pra 9. Tenho pouco
tempo para admirá-la, para ouvir o resto da história, para me acostumar com a
ideia de que esta noite de sábado está definitivamente terminada. De tarde,
falávamos de todas as coisas, ríamos das coisas tolas que nos dizíamos no
passado, contávamos o que tinha acontecido em nossas vidas depois daqueles anos
todos, que aventuras e desventuras vivemos depois de nós. Parecia que o tempo não
ia passar esta tarde, porque faltava muito para o ônibus chegar, nenhum painel
eletrônico exibia a contagem regressiva para a despedida. Seis minutos. Você
termina o caso do dia da viagem. Silencia. Me olha. Parece cansada. A história
da tal viagem é mesmo cansativa, deve doer pra você contá-la e recontá-la. Por
isso, seu silêncio agora é bom, deve ser reconfortante pra você não ter que
repetir as mesmas palavras que eu já conheço tão bem. Você olha a esquina,
parece que deseja que o ônibus chegue antes dos quatro minutos previstos.
Deseja que o veículo seja um disco voador que a leve pra outro planeta longe
daqui, desta cidade que você não deseja mais. Se eu pudesse, eu pegaria
qualquer condução contigo, iria pra onde você vai, te deixaria na esquina de casa
e voltaria caminhando. Mas o painel acaba de informar "aproximando".
É verdade. Lá da outra esquina, vem vindo apressado o coletivo. Muitas pessoas
estão indo pra casa a essa hora. Elas estão chegando dos seus dias que devem
ter sido tão legais como o meu; devem estar voltando do cinema, do clube, do
parque; muitas estão satisfeitas e descansadas depois de um dia inteiro no
trabalho, depois de visitar os entes queridos internados num hospital; muitos
trazem em suas felizes sacolas aquele objeto tão desejado, o celular novo, as
roupas de marca, os alimentos, o livro novo. Estou feliz por toda gente que
está indo para casa agora, exceto por você: eu não queria ver partindo. Queria
que você ficasse, que esperasse o próximo (o painel anuncia que chegará em
vinte e cinco minutos) e terminasse a história da prova: se Deus quiser, você
vai passar no concurso da Prefeitura, daí "as coisas devem melhorar".
Mas agora não dá tempo mais. A porta do ônibus já abriu, muita gente se
acotovela pra entrar. Estranho estar cheio a essa hora. Você me dá o último
abraço do dia, agradece de novo o presente, diz que vai "devorar o
livro" hoje mesmo. Embarca. De lá de dentro, antes de girar a catraca,
acena e sorri. Eu retribuo o sorriso, aceno também. Mas tudo isso é muito
rápido, porque logo o ônibus se afasta, já está lá no viaduto Santa Tereza. Vou
esperar o meu. Opa, está "aproximando" também.