segunda-feira, 11 de maio de 2009

MAÍSA E OS MONSTROS



A expressão tensa da menina no palco parecia indicar que algo não estava bem. Primeiro, ela se soltou bruscamente da mão do apresentador e se afastou dele, lívida e trêmula; logo depois, de olhos arregalados, ela viu aparecer no estúdio a rídicula figura de outra criança, fantasiada toscamente como um "monstro". Certo, o tal monstro não assustaria quase ninguém. Mas no caso da garota de seis anos chamada Maísa, atualmente a principal "atração" do programa dominical de Sílvio Santos, foi o bastante para que ela entrasse em pânico, e fugisse aos berros do estúdio. A platéia veio abaixo com as gargalhadas, como se aquilo fosse um show de palhaços. O apresentador chamava a menina em vão, pedindo que ela voltasse. Ela voltou, mas pouco depois, incitada pelo apresentador, que ameaçava trazer o "monstrinho" de volta, ela deixou o estúdio para não voltar mais. Sílvio Santos repetia: "essa Maísa não tem jeito mesmo...". Ora, trata-se de uma criança de seis anos. Por mais que ela pareça "espontânea" e "extrovertida" ela não deveria ser exposta a ridicularização pública a que é submetida toda tarde de domingo. Por mais que suas respostas às provocações do apresentador pareçam "inteligentes", ela não tem o discernimento e capacidade de julgamento necessários; é uma criança, e como reza o ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente - , deve ser preservada de situações constrangedoras e vexatórias, ou de ser exposta ao ridículo. O apresentador a provoca até o limite da sua paciência, para que ela, na sua inocência, faça o público cair na risada. Algumas pessoas com quem conversei sobre o assunto justificam a participação de Maísa no programa pela quantidade de dinheiro que ela deve receber pela atração, pelo "sucesso" que ela representa, pelos pontos de audiência que deve roubar das emissoras concorrentes. Ora, ela talvez não tenha consciência disso tudo, nem a noção do quanto "vale" no mercado televisivo - ela já foi "disputada" por outros canais. Maísa sequer pode usufruir legalmente de todo o dinheiro que tem. A administração dos ganhos dela deve estar nas mãos de alguém contratado pelos pais.
Num mercado como a televisão, em que toda novidade é perecível, não há de durar muito para que passe o "efeito Maísa" e ela caia no esquecimento, sendo substituída por outra bizarrice dessa natureza. No momento em que ela não gerar mais audiência (e lucros), quando o público não tiver mais interesse, quando se esgotarem todas as surradas piadas do apresentador para fazer a garotinha ficar nervosa, brava e sair correndo chorando, aí então é só colocar outra coisa no ar.

Um comentário:

  1. Eu sou totalmente contra a esse tipo de trabalho. Acho que uma criança de 6 anos deveria esta fazendo coisas de criança. brincando pois o carater dela esta sendo formado.Não tem ainda noção de nada e do perigo. Uma crainça tem que ser protegida.Os pais deveriam ser processados por submeter a sua filha a exploração de trabalho, etc.

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