domingo, 10 de junho de 2012

RUA SÃO PAULO


(Andando na Rua São Paulo, uma tarde de domingo. Quatro e pouco. Pega o celular. Hesita. Disca uma vez. Erra o número. Começa de novo. Está chamando...uma voz feminina soa do outro lado da linha): Alô...
- Alô! Oi! Tudo bem? ...
- Oi! Achei que você não fosse ligar. Como vai? Quanto tempo, hem?
- É. Só que não tanto quanto eu falei no conto. Você já leu?
- Li. Gostei.
-Você reconheceu os personagens?
- (rindo)Sei não... Aquilo ali me lembra alguma coisa... conheço aquela pessoa que você descreve.
- Pois então. Eu te falei. Você acertou. Eu estava falando de você.
(Ela ri de novo) Quero direitos autorais. Afinal, a história não é sua. É minha.
- É sobre mim também. Mudei alguma coisa, só pra não te comprometer ainda mais. (agora é ele que ri).
- Você romantizou um pouco. Eu não sou tão...
- Mal dos escritores. Sempre exageram um pouco.
- Seu bobo...
- Espero que o Otacílio não fique bravo de eu ter falado mal dele.
- O nome dele não é Otacílio... alías, não tem Otacílio nenhum. Nem Otávio, nem doutorado na Alemanha. E, pelo que sei, seu pai está bem vivo ainda, eu não escrevi nenhum livro, não tou dando aula na pós, não tenho salário...e eu não viajei.
- Estava meio sem idéias, enchi um pouco de linguiça. Mas o essencial está ali. Eu queria inventar um encontro entre o meu personagem e você, era pra esclarecer as coisas, tentar entender o que tinha acontecido. Daí, bolei esse conto.
- Quanta imaginação...
- Às vezes, minha cara, a imaginação cura a realidade.
- Poxa, gastando, hem? De onde você tirou essa?
- Acabei de criar.
- Aquele e-mail que você mandou, me "convidando" para tomar um café, tá de pé ainda?
- Na hora que você quiser.
- Eu te ligo. Vou ter uns dias de folga semana que vem. Me conta as novas...
- Nada demais.
- Tá namorando?
- Não.
- Aqui, por falar nisso, essa história de ex-mulher, a tal que é "muito sistemática", é invenção sua também, não é?
- É. se fosse verdade, você seria a primeira a saber. E você, está com alguém?
- Também não.
- E a escola? Já formou?
- Não, é só no semestre que vem.
- Tá vendo? Na ficção, você já está na pós.
- Quem dera que isso fosse possível... ah, se tudo o que você escreveu fosse verdade!...
- A única verdade nessa história toda é que eu era apaixonado por você. Talvez eu ainda seja.
- Depois desse tempo todo?
- É.
- Mesmo depois que eu tomei aquele chá de sumiço, não respondia seus e-mails, quando respondia eu te tratava mal, cheguei até a bloquear você na minha caixa postal... depois disso tudo você ainda...
- Pois é. Acho que isso era amor.
- (...)
- Escuta... será que dava pra gente marcar um dia desses? Aí a gente podia conversar...opa, meus créditos estão acabando! Deu um bip aqui no meu celular...alô!alô... você está me ouvindo? Merda! Caiu.

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