sábado, 9 de julho de 2022

 O MENINO ESTÁ DE VOLTA

Sejam ben vindos


O INGRESSO NÚMERO UM


LEGIÃO URBANA 

PARQUE DAS MANGABEIRAS, BELO HORIZONTE, (25/06/1994)

Será eterna e inesquecível esta noite - que começou negra, tensa e chuvosa. Eu estou entre milhares de pessoas, nervosas, mas felizes - afinal estão aqui, neste belíssimo parque, para ver subir ao palco, depois de quatro anos, a maior e melhor banda de rock do Brasil - A Legião Urbana. A multidão grita, canta, implora. De repente, as luzes do palco se apagam, e pelos alto-falantes começa a ser ouvida uma bela melodia. Quando a banda entra finalmente no palco, o parque vem abaixo: muitas lágrimas, muitos gitos, a explosão da alegria contida a tanto tempo - nossos ídolos estão aqui! Renato Russo, nos vocais, Dado Villa-Lobos e Fred Nascimento, nas guitarras; Mareclo Bonfá, na bateria, Carlos Trilha, nos teclados e Gianfranco de Luca, no contrabaixo, arrasam de imediato com "Mais do Mesmo", levando o público ao delírio: Milhares de vozes com a mesma canção. 

O mais impressionante é, sem dúvida, a performance do vocalista Renato Russo - não importa que o guitarrista Dado Villa Lobos, com seus solos perfeitos e precisos, roube a cena por alguns instantes - o centro das atenções é mesmo a figura franzina, de barba e óculos, vestida com uma camisa branca de detallhes floridos. Renato É a Legião. Durante o show ele fala e canta muito. E faz mais: dançam brinca com o público, reclama do som; "Tem muito grave no palco!, esbraveja com a produção. Confessa que esqueceu um trecho de canção "Eduardo e Mônica" e pede, em tom de brincadeira, para o público ajudá-lo. Canta "Será" sentado à beira do palco, usa o microfone como um punhal, e o crava no peito no final de "Ainda é Cedo", que é introduzida com um monólogo improvisado, em que ele diz "eu tive uma menina que estraçalhou meu coração, eu tive que catar os pedaços no chão, depois disso é que virei bicha"mas depois diz que é brincadeira, e pede às meninas que cuidem muito bem dos seus rapazes, para eles não passarem para o outro lado. 

A noite foi cenário de um quase milagre: o frio, a neblina, desaparecem como que por encanto, e uma lua magnífica veio olhar porque tantas pessoas cantavam e ficou para ouvir. 

Deve ter gostado: "Vento no Litoral", "Metal Contra as Nuvens", "Os Anjos", "Tempo Perdido", "Giz", "Indios", as já citadas "Será", "Eduardo e Mônica"e "Mais do Mesmo", e ainda "Os Barcos", "Ainda é Cedo", "Quase sem Querer", "Que País é Este", " Eu Sei", "Há Tempos", "Pais e Filhos", "(1965) Duas Tribos", "O Teatro dos Vampiros", "La Nouva Gioventú", "A Fonte", "29", "Perfeição", "Do Espírito", foram as músicas de cerca de uma hora e meia de show. 

O final foi ainda mais lindo: todos os integrantes da banda jogaram flores para o público, que foram disputadas à tapa. Eu mesmo consegui uma, mas tive que dá-la a uma garota.As pessoas, de alma lavada, exaustas e felizes, começam a se retirar ao som de um belo solo de violão, gravado em fita. Os comentários são variados: "O show foi ótimo", "Renato Russo é lindo", diz uma garota. "e o Dado também, diz outra. "É pena que eles não tocaram "Faroeste Caboclo"(uma das músicas mais pedidas pelo público). Espero que eles voltem em breve, e mais de uma vez - valeu ter vivido até aqui, para viver esta noite maravilhosa. 

Olavo Duarte, 25 e 26 de junho de 1994

1 - Em tempo: Renato disse pelo menos uma bela frase, entre outras. Ao reclamar do som, saiu-se com esta: "Eu sempre reclamo de tudo, porque sempre tenho resposta para tudo...mas eu não tenho resposta para nada!".

2 - O último parágrafo do texto acima enterra um desejo que, desde a madrugada de 11 de outubro de 1996, jamais poderá se realizar: o cantor e compositor Renato Russo morreu nesta data, aos 36 anos em decorrrência de complicações provocadas pela AIDS.



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