domingo, 10 de julho de 2011

PRIMEIRO DOMINGO DE JULHO

Já que essa tarde de domingo não foi como eu esperava, e nem COM QUEM eu esperava estar, preciso fazer novos planos: estou aqui mesmo, e tem uma galeria de arte, uma cafeteria, um cinema. A livraria, disse o segurança, só reabre na terça. Dou uma olhada nas sinopses dos filmes. Interesso-me pela história de um homem de 70 anos, aposentado, que decide voltar a estudar na Faculdade de Literatura. O ingresso, por incrível que pareça, custa só cinco reais, a inteira. Lá em cima (estou no nível inferior do Palácio das Artes), a galeria exibe uma exposição que cobre 100 anos de arte brasileira: perambulo pelos artistas da década de 10 do século passado até obras dos dias atuais. Quase seis da tarde, desço, tomo um belo cappucino na cafeteria do Palácio e vou assistir ao filme. Emociono-me com a história de Chano, um simpático septuagenário que acaba de se matricular na universidade. O filme termina, saio do cinema com a alma mais leve, e um pouco menos triste. Resolvo caminhar pela linda cidade que é Belo Horizonte num domingo à noite. Nem parece aquela capital agitada e nervosa de segunda a sábado. Vou andando até a praça diante do Batalhão da Polícia, onde as crianças brincam, os casais de namorados (homos e heteros) passeiam de mãos enlaçadas, as senhoras conduzindo seus cãezinhos, garotas saradas fazendo sua caminhada, o vendedor de pipoca com o seu ganha-pão. E o trânsito tranquilo, a temperatura amena, quase me convidam a permanecer ali por mais tempo, pensando na vida, me convencendo que eu tenho o direito de ficar assim em paz comigo, consciente do que eu sinto, até mesmo para ter saudade e vontade de ver, de conversar, de me apaixonar de novo. Vou até o Shopping Center ali perto, entro só para ficar perambulando, olhando as vitrines das lojas fechadas, a exposição de carros antigos, a fila do cinema, que está passando um blockbuster qualquer. No hipermercado, compro lápis, canetas e cadernos, compro um refrigerante. Saio para procurar o ponto de ônibus para casa. As pessoas, com ar de cansaço feliz, o dia delas deve ter sido divertido também, todas elas saíram da rotina dos dias comuns. A não ser a bela garota com o uniforme da empresa que gerencia o cinema do shopping: ela acaba de deixar o serviço, não deve nem estar pensando em lazer, em ver um filme. Deve estar aflita pra chegar em casa. O telefone toca, e a mensagem de texto diz que vale a pena viver o momento, "curtir a própria companhia", que foi bom não ter desperdiçado a tarde de domingo. Concordo. Sim, estar comigo mesmo hoje foi bom, acho que agora eu gosto um pouco mais de mim, embora o coração esteja ainda um pouco triste.

Nenhum comentário:

Postar um comentário