sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

VOLTAIRE (François Marie-Arouet, 1694-1778)

ZADIG OU O DESTINO (UMA HISTÓRIA ORIENTAL)
Tradução por Mário Quintana (1906-1994)

O grande mago propõe primeiro a seguinte questão:
- Qual é, de tôdas as coisas do mundo, a mais longa e a mais curta, a mais rápida e a mais lenta, a mais divisível e a mais extensa, a mais negligenciada e a mais irreparávelmente lamentada, que devora tudo o que é pequeno e que vivifica tudo o que é grande?
Cabia a Itobad falar. Respondeu que um homem como êle nada entendia de enigmas e que lhe bastava ter batido os adversários a lançaços. Disseram uns que a chave do enigma era a fortuna, outros a terra, outros a luz. Zadig disse que era o tempo. "Nada é mais longo - acrescentou êle, - pois que é a medida da eternidade; nada é mais curto, pois que falta a todos os nossos projetos; nada mais lento para quem espera; nada mais rápido para quem desfruta a vida; estende-se, em grandeza, até o infinito; divide-se, até o infinito, em pequenez; todos os homens o negligenciam, todos lhe lamentam a perda; nada se faz sem êle, faz esquecer tudo o que é indigno da posteridade, e imortaliza as grandes coisas". A assembléia deu razão a Zadig.
Perguntaram em seguida: "Qual é a coisa que se recebe sem agradecer, que se desfruta sem saber como, que damos aos outros quando não sabemos onde é que estamos, e que perdemos sem o perceber?"
Cada qual deu a sua explicação. Apenas Zadig adivinhou que se tratava da vida.

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