quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Não por Acaso: destinos que se cruzam nas ruas de São Paulo




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Não por acaso , Brasil, 2007 - 90 min
Direção:Philippe Barcinski Roteiro:Philippe Barcinski, Fabiana Werneck Barcinski e Eugênio Puppo Elenco: Leonardo Medeiros, Rodrigo Santoro, Letícia Sabatella, Rita Batata, Branca Messina, Cássia Kiss e Graziella Moretto. Disponível em DVD.



DESTINOS CRUZADOS

Nossa vida está condicionada aos nossos deslocamentos pelo espaço. Para satisfazer nossas necessidades de consumo, lazer, saúde, para trabalhar e ir ao encontro das pessoas queridas, precisamos nos deslocar. O que necessitamos está sempre lá adiante, nunca os nossos desejos estão onde estamos. E por isso precisamos buscar, partir, procurar; assim, o trânsito urbano é parte da qualidade da nossa vida. A fluidez do tráfego é diretamente relacionada ao sucesso de nossas buscas e expectativas. Ir e voltar, procurar outro caminho, eleger outro destino dependem necessariamente de encontrar a estrada livre e aberta adiante. O congestionamento atrasa o futuro. Por isso, o papel das pessoas que organizam, controlam e coordenam, não raro anonimamente, o trânsito de nossas cidades, é tão importante, fundamental para que a metrópole ande para frente.



Não se têm notícia de que alguma vez o cinema tenha retratado um desses personagens anônimos que, detrás de um terminal de computador, com os olhos fixos em telas de câmeras de monitoramento de tráfego, ajudam a cidade a se deslocar, os carros a obedecer os fluxos dos semáforos, e os nós a serem desfeitos. “Não por Acaso”, filme de 2006 dirigido por Phillipe Barcinski e com Leonardo Medeiros no papel de Ênio, engenheiro de trânsito da CET, Companhia de Engenharia de Trânsito de São Paulo, mosta a rotina dentro de uma sala de controle de trânsito. Diante dos monitores, os técnicos se revezam dia e noite para administrar o emaranhado de semáforos de uma cidade gigantesca como São Paulo, "a cidade que não pára". Embora registre todos os dias centenas de quilômetros de congestionamentos. O filme de Barcinski, que conta no elenco também com Rodrigo Santoro, Graziella Moretto, Letícia Sabatella, Branca Messina, Cássia Kiss e a estreante Rita Batata, vai além do puro registro das particularidades desse tipo de atividade, para se imiscuir na vida pessoal do protagonista. Depois de fracassar no casamento, Ênio se vê diante de outro drama: um acidente de trânsito. Justamente a situação que seu trabalho cotidiano busca evitar a todo custo. É a fatalidade, o imponderável, que nenhum sistema, nenhuma máquina, nenhuma tecnologia consegue prever. O acidente, paradoxalmente, coloca Enio diante das escolhas que nunca quis fazer na vida, que em sua rotina meticulosa jamais precisou confrontar. Por exemplo, saber que tem uma filha (Bia, papel de Rita Batata) da qual precisa agora cuidar. Como diz o website do filme (www.naoporacaso.com.br) “manejar a emoção desse encontro será mais difícil que controlar o trânsito de São Paulo”. Em paralelo e simultaneamente, acompanhamos a história de Pedro, vivido por Rodrigo Santoro, que herdou do pai o ofício de fabricante de mesas de bilhar. Tal como Ênio, Pedro acha que pode controlar a vida como se fosse um jogo, que pode vencer o adversário aplicando sempre os mesmos lances, que o risco de qualquer jogada pode ser calculado, que a tacada perfeita pode ser reproduzida indefinidamente. O mesmo acidente de trânsito, o mesmo imprevisto que muda a vida de Ênio vem mudar o rumo e as escolhas de Pedro. Um filme para mostrar que o trânsito não é só feito de automóveis: há pessoas dentro dos veículos, há histórias de vida que se entrecruzam continuamente, há paradas e atrasos indesejados nas rotinas, nas buscas e aventuras humanas das quais uma cidade é construída. E também há finais abruptos, perdas inexplicáveis, seqüelas que duram toda a vida. Quando um semáforo abre, aquele que fica na outra rua se fecha. Enquanto um fluxo se estanca, aquele que o cruza flui. Tal como a vida.

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